domingo, 14 de junho de 2009

RIDÍCULO E ENFADONHO

Como cidadão, tentei seguir, impressionar-me, comover-me, indignar-me com as notícias do dia-a-dia. A corrupção na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, nas empresas públicas e privadas, em qualquer estamento da república, nas igrejas e na polícia produz explicações, justificativas dos implicados que só ganham em ridículo dos comentaristas políticos da TV Globo ou cientistas professores de universidades. Propiciar viagens a parentes e amigos com dinheiro público não constrange representantes da direita nem da esquerda e muito menos o presidente da república.
Economistas renomados, sábios, experientes, com anos de ministério nas costas, tentam desvendar os mistérios da “crise mundial” com rodeios e dezenas de “veja bem”, com expressões fortes e novas “economia robusta”, “recessão técnica” e amenizar os sofrimentos do combalido PIB e diagnosticar-lhe uma sobrevida.
Na primeira hora do dia, nas notícias do almoço e nas repetidas estatísticas da noite tem-se uma indigestão, seguida de congestão, provocada pela voz e pelas afirmações de Sarney, Ramiro Jucá, Lula da Silva, Sardenberger ou Cristiana Lobo. Tudo soa ridículo, artificial e enfadonho como a limpeza semanal da diarista. Ela precisa limpar, passar e cozinhar, receber a diária e voltar para casa. Todos e sempre os mesmos têm que fazer, dizer, explicar, justificar. Cumprem o dever de iludir e voltam para casa.
Amanhã retornarão e nós estaremos lá para ouvi-los e rir do ridículo. O inexplicável foi devidamente explicado. O insolúvel foi temporariamente solucionado. O irrealizável foi prometido.
Até o sinistro voo 447 se tornou enfadonho, com tantas informações inúteis, num jogo competitivo de equipes treinadas e eficientes em retirar corpos e destroços do mar imenso. Oficiais sérios não se furtam de responder questões supostamente pertinentes de repórteres com as prudentes palavras “não temos essa informação”.
Estamos todos convidados, premidos, convocados a apreciar a velocidade e o espetáculo do crescimento cuja força abaterá qualquer crise que ouse frear as ambições do poder. Somos convulsionados num fanatismo tão religioso e fundamentalista do crescimento a qualquer preço que tudo parece concorrer para cairmos no abismo sem dor, anestesiados pelo milagre poderoso de nossos governantes.
Estamos sendo levados para o desastre ecológico em ritmo de festa, num desfile carnavalesco, extasiados pelas fantasias, alegorias, sons de tambores e músicas que se desfazem em cinzas no dia seguinte.

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