quinta-feira, 18 de junho de 2009

OS POBRES DE LULA

É compreensível que os ocupantes do poder e possuidores da autoridade nacional sintam o dever de falar aos súditos e se atribuam o direito da incontestabilidade do que dizem. Ainda que soem estranhas as afirmações normalmente ditas em viagens internacionais, na capital da Suíça, da Rússia ou do Cazaquistão.
Em Genebra, o presidente Lula da Silva, com sua voz rouca e severa, afirmou diante de personalidades de terno e gravata e de cenho franzido que “não são os pobres e os imigrantes os responsáveis pela crise financeira mundial”. É uma declaração mais do que óbvia. Quem teria insinuado a Lula que os pobres são culpados de alguma coisa mais do que fazer filhos além da capacidade de alimentá-los? Quem lhe teria dito que é culpa dos pobres que perto deles não há boas escolas e as ruas em que vivem estão esburacadas e enlameadas? Que é culpa deles que suas casas não têm água encanada e cheiram a esgoto escorrendo pelas valetas? Que é culpa deles se moram nos confins das cidades e tomam dois a três ônibus ou caminham léguas para chegar ao trabalho? Que é culpa deles por estarem desempregados ou expulsos de suas terras, encarcerados em prisões degradantes ou ganham o pão cuidando de carros importados nos estacionamentos?
Quem disse a Lula que é culpa dos pobres e imigrantes que a corrupção mais odiosa e descarada se instalou em seu próprio partido, no Congresso Nacional, nas autarquias e ministérios? Que é culpa dos pobres que os senadores humilharam o Senado da República? Quem disse a Lula que o dinheiro do mensalão foi trazido por imigrantes em lombo de burro?
Quem disse a Lula que é culpa dos pobres e imigrantes a vasta derrubada da floresta amazônica, o lucro exorbitante e escandaloso dos bancos públicos e privados? É culpa dos pobres que o farto consumo de drogas da classe alta, comandado por mãos invisíveis, alimenta a guerra do tráfico no Rio de Janeiro e Nova Iorque?
Lula conhece bem as palavras e as frases de efeito. Sabe que são essas expressões que os ricos e os pobres querem e gostam de ouvir. É preciso que a maior autoridade de um país diga essas obviedades para agradar a uns e a outros e para que nada mude. Foi dito e está dito. Hospedado em hotéis dos mais caros de Genebra, é preciso inocentar os pobres e os imigrantes que não têm 400 dólares para pagar uma diária com café da manhã.
Lula tomará seu próprio avião para descer em Moscou e no Cazaquistão, onde falará em nome dos pobres e dos imigrantes do Brazilstão. Ao fim e ao cabo, é bom ser lembrado, de tempos em tempos, que as crises econômicas e financeiras, as crises morais e éticas, as crises de esquizofrenia política não devem ser jogadas nas costas dos pobres e dos imigrantes que não tem bilhões para perder na mão dos agiotas das bolsas de valores.

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