quarta-feira, 24 de junho de 2009

ABC DO LULA

“Minha mãe nasceu analfabeta”, informou Lula para valorizar o inegável feito de ter chegado à presidência do Brasil. Deu, com isso, esperança aos analfabetos e paus-de-arara e a todos nós que votamos nele. Lembre-se que, por três vezes, o povo de Caetés não votou no candidato Lula, nascido ali.
O abecê tornou-se uma palavra de ordem no clã dos Silva. De todos os galhos da família brotavam recomendações à mãe do Lula: “a senhora tem que conhecer o abc”, “não pode morrer sem conhecer o abc”, “o abc é muito importante na educação e no futuro dos filhos”.
Um dia, chegou a Caetés (PE) um caminhoneiro pau-de-arara, convidando o povo castigado pela seca a ir para o sul e conhecer o ABC paulista, o mais completo alfabeto cheio de oportunidades para violeiros e trovadores desempregados. Para lá foi o clã dos Silva. A mãe, cansada de tanto ouvir recomendações sobre a importância do abc, juntou os filhos que andavam por perto, amarrou uma trouxa de roupa, comprou um pacote de biscoito-maria e trepou no caminhão.
Três dias depois, moídos da viagem, com os olhos vermelhos de poeira e de sono, o pensamento ainda preso na roça seca, na galinha que botava na cesta da varanda, o vira-lata que ficou guardando a casa, o rinchar dos jegues soltos pelas ruas, dona Lindu viu, admirada, o famoso ABC.
Atravessaram São Paulo entre edifícios, que alguém disse: é uma selva de pedras, um formigueiro de gente como se fosse a festa de Caruaru. Desembarcaram em frente à prefeitura de São Bernardo do Campo.
“Aqui estamos em São Bernardo”, disse o motorista do pau-de-arara. “Ali atrás é Santo André e, mais na frente, São Caetano. Estamos no ABC. Agora é com vocês.”
Finalmente dona Lindu estava conhecendo o ABC. “Taí meu filho”, disse ela a Lula, “tu queria conhecer o ABC, tá ele aí”. Lula familiarizou-se com o ABC. Gostou do B, ficou nele, em São Bernardo. Aos poucos o ABC foi entrando nele e ele no ABC. Um dia, saiu do ABC e foi governar o nosso país sem livros e sem lápis. Só com um avião.

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