quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

OPORTUNIDADE PERDIDA

Declarou-se, em discursos oficiais, em entrevistas de cientistas políticos, em tom de desespero para uns e de triunfo para outros, que a era do neoliberalismo se esgotara na crise financeira mundial com epicentro nos Estados Unidos da América.
Diante da catástrofe anunciada, o Estado foi chamado e obrigado a intervir na economia desastrada dos operadores do capitalismo. A confiança neles, como orientadores e executores da poupança e investimentos alheios, ficou abalada. Bancos, empresas imobiliárias, indústrias de automóveis foram socorridos com grossos bilhões tirados dos tesouros nacionais. Bilhões que saíram do nada, pois antes não existiam para serem aplicados em educação, saúde, meio ambiente, pesquisas biológicas em benefício da humanidade.
No Brasil, a esquerda no poder, um operário Presidente, com 84% de popularidade, perdeu a oportunidade histórica de dar um passo decisivo na direção do socialismo social, mais ousado do que o necessário e benéfico auxílio do Bolsa Família.
Perdeu a ocasião de garantir um cenário de esperança na construção da igualdade social. Faltou ao Sr. Lula coerência com suas origens em defesa dos trabalhadores, da classe-média e da multidão de pobres e desempregados em todas as regiões do Brasil. Faltou à esquerda brasileira no poder um oportuno plano de mudanças para a ocasião que se apresentasse.
Perdemos todos o momento histórico da virada na direção das mudanças fundamentais que orientariam o futuro do país.
Enredado na trama do capitalismo tupiniquim, preso ao discurso tradicional dos detentores do poder econômico e adoradores do PIB, inebriado por alianças partidárias comandadas por figurões da política corrupta, o Sr. Lula abriu os cofres para bancos, montadoras de automóveis e seus acólitos, aos exportadores que especularam com moedas em vez de produtos.
Perdeu o Sr. Lula e perdeu o país a oportunidade de aplicar esses bilhões − ninguém sabe ao certo quantos são − em áreas vitais para os brasileiros. Se o Sr. Lula e o exército de assessores formados na resistência à ditadura militar, ex-comunistas e guerrilheiros, tivessem algum plano de mudança, ao qual se referiam quando eram oposição, alguns bilhões desses que foram aos bancos e às montadoras teriam sido aplicados na educação fundamental, na preparação e remuneração digna de professores, manutenção de escolas integrais recomendadas e instaladas por Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, e erradicação do analfabetismo.
Esses bilhões mudariam Bolsa Família em Bolsa Trabalho, visando à reconstrução de vias, construção de casas populares em mutirões comovedores.
Fortaleceriam o cooperativismo de crédito não especulativo, de produção e consumo.
Reflorestariam a Mata Atlântica, o Cerrado degradado, a Zona da Mata pernambucana e sustentariam a floresta amazônica.
Modernizariam hospitais, postos de saúde, laboratório de pesquisa e inaugurariam uma campanha de planejamento familiar inteligente e eficaz junto à população com pouco acesso à informação e reduzida consciência das dificuldades geradas pelo crescimento populacional.
O Sr. Lula, os esquerdistas, socialistas, comunistas e ex-guerrilheiros no poder preferiram premiar os especuladores ineficientes que vivem como nababos por conta do dinheiro público e dos impostos nacionais.
As esquerdas aprenderam com o sindicalismo a negociar aumento salarial e, na agenda das negociações entraram princípios, convicções, ética, socialismo social e político. Tudo foi negociado em troca do poder absoluto.
Faltou à esquerda brasileira inteligência política para captar o momento oportuno na condução da economia em benefício do povo. Fomos enganados. Cometeu-se um equívoco histórico.

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