segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

MODERNIZAÇÃO DE BRASÍLIA

Dizem os especialistas, leia-se arquitetos e urbanistas, que preservar a cidade de Brasília não impede sua modernização. Acrescentam, colocando-se eqüidistantes das polêmicas recentes, que adaptações são necessárias para acompanhar o aumento da população e suas novas demandas sociais.
Cidadão habitante de Brasília, desde 1972, tento compreender o que esses especialistas incluem na palavra modernização. Vou restringir-me aos dois pontos mencionados acima: aumento da população e demandas sociais.
A introdução de centenas de semáforos seria um dos elementos de modernização? Não existiam quando decidi morar em Brasília. A cidade ampla, silenciosa, monumental, rudemente vegetal, bucólica foi invadida por condutores de automóveis antes que a inteligência administrativa e planejadora se antecipasse com um eficiente, confortável e moderno sistema de transporte público capaz de mobilizar a população por dentro e relacioná-la com os bairros satélites.
Brasília se moderniza, então, com a entrada incontrolável do automóvel particular que impõe adaptações a seu uso de forma ditatorial e intransigente. O proprietário do automóvel particular, por falta de moderno sistema de transporte público que devia ter sido concebido, desde os primeiros dias, pelo governo com a participação da comunidade brasiliense, impôs adaptações viárias que degradam o ambiente e envenenam o ar que respiramos.
Quatro pontes sobre o Lago Paranoá, às quais seguir-se-ão outras, amplas avenidas sobre áreas de proteção ambiental, triplicação de pistas, alargamento de viadutos, dezenas de estacionamentos que roubam espaços verdes ao pedestre, centenas de semáforos e moderníssimos engenhos eletrônicos de controle da loucura motorizada são obras incessantes. Milhares de placas sinalizadoras, não obedecidas pela maioria dos condutores, engarrafamentos diários, cada vez mais intensos e irritantes, desafiam os nervos do cidadão. Essas adaptações são alguns dos artifícios da modernidade?
A circulação necessária de um milhão de pessoas por dia, no Distrito Federal, depende cada vez mais do milhão de automóveis. As tentativas de diminuir o fluxo de carros, além de tímidas e insuficientes, esbarram em contradições urbanísticas.
Outro elemento de modernização apontado é o do aumento da população com suas demandas sociais. Para atender as demandas sociais da população do Plano Piloto, 390 mil habitantes, há equipamentos e serviços técnicos e modernos suficientes: colégios, universidades, igrejas, hospitais, clínicas, teatros, clubes, supermercados, restaurantes e bares em abundância.
Há que assistir, a exemplo de Brasília, às populações de Santa Maria, São Sebastião, Samambaia e similares, descentralizando equipamentos, métodos e conteúdos de primeira linha como os do Plano Piloto. Não se obrigariam seus habitantes a tomar dois a três ônibus para ir ao trabalho ou buscar um serviço que poderiam ter ao pé da casa, à semelhança dos que vivem em Brasília. Não é esta a mais digna das modernizações?
As demandas sociais devem ser satisfeitas onde reside a população. Não apenas educação e saúde, mas todos os demais serviços públicos do governo e da sociedade incluindo o posto de trabalho. Brasília é um exemplo, um modelo de urbanização e convivência humana a ser desenvolvido em toda a região que a circunda. Brasília é a casa-mãe, a inspiradora de todos quantos a visitam para admirá-la, preservá-la e reproduzi-la em dezenas de cidades-arte na diversidade plurirregional do Planalto Central.

Eugênio Giovenardi
Escritor e sociólogo aposentado da Organização Internacional do Trabalho.

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