quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DESAFIOS DA SUPERPOPULAÇÃO

Atender aos reclamos e às necessidades de uma superpopulação é, hoje, um desafio para países ricos e pobres. Uma grande população rica não quer perder os privilégios adquiridos com a acumulação pública e privada da riqueza. A população pobre mendiga, reclama e pressiona, com seu poder amedrontador do pouco ou nada a perder, para obter as sobras que não fazem falta aos ricos.
Diante da superpopulação chega-se tarde em quase todos os domínios dos serviços essenciais de nossa época. É assim na China, nos Estados Unidos, no Brasil.
Na educação, mesmo que haja escolas para abrigar numericamente todas as crianças e jovens, o Brasil mantém altos índices de analfabetismo e baixíssima qualidade da aprendizagem. Há duas escolas. O educandário privado, comercial, lucrativo, para a pequena parcela que pode ou se obriga a pagar por razões sociais e de classe. A escola pública é reservada à população agrícola, aos trabalhadores e à vasta camada à margem do núcleo ativo da economia. Cumpre apenas, na maioria dos casos, um dever formal do Estado sem mencionar as disparidades da qualidade no seio dessas mesmas escolas. Uma das tremendas dificuldades de acesso dos usuários das escolas públicas é o transporte, efetuado perigosamente, pouco diferente do carregamento de animais e produtos agrícolas.
Não é, certamente, má vontade dos professores ou do ministro da educação. Sãos os desafios naturais da superpopulação. Há os que veem vantagens políticas em manter boa parte da população submissa à desigualdade. Ninguém no governo ou na sociedade se antecipou a pensar nos desafios de uma superpopulação. Não há instrumentos nem habilidades instaladas para administrar grandes populações. E os que porventura existam, são insuficientes para administrá-las. O argumento acaba sendo a míngua de recursos disponíveis, acrescida da justificativa estatística de que o montante orçado para a educação aumenta em algum percentual ano a ano.
Nossa população aumenta em três milhões de pessoas por ano e somam-se aos 10 ou 15 milhões de adolescentes que não conseguem terminar o curso secundário. Um grosso montante da população chegará tarde à mesa da cidadania porque se chega tarde a ele.
E assim se repete a desigualdade na prestação dos serviços de saúde, na criação de oportunidades de trabalho, na diferença de salários, na segurança individual e pública, no transporte urbano.
A desigualdade se consolida e passamos a aceitar os critérios de aumento do salário mínimo, complementado por benefícios sociais. É tudo o que se pode oferecer à superpopulação com a ajuda de índices estatísticos generosos para apaziguar a consciência coletiva.

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