segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DA TORRE DE BABEL

AO OBELISCO DA SOBERANIA

As épocas de glória de uma civilização são marcadas por celebrações e eternizadas em monumentos. A grandiosidade do universo incita o pensamento do homem a imitar com seu engenho a magnificência das obras da Natureza.
Templos nos cumes das montanhas, na Grécia, a Torre de Babel – porta de Deus – nas planuras da Babilônia e as pirâmides do Egito selaram a opulência dessas civilizações.
Ostentação, pompa, suntuosidade arrebatam e fascinam. Os gênios criadores e os mecenas patrocinadores de templos colossais, edifícios gigantescos, mausoléus magníficos extravasam seu prazer na concepção arrojada e na concreção da obra exposta aos olhares dos séculos. Seus nomes serão lembrados no curso dos milênios. Só não se faz o registro dos milhares de operários que os levantaram pedra sobre pedra.
É comovedora a disposição do arquiteto Oscar Niemeyer, aos 101 anos, de oferecer a Brasília um obelisco de 100 metros de altura, apontado para além da linha do horizonte. É empolgante o ato criador do arquiteto centenário de projetar-se além do horizonte efêmero da vida.
Talvez seja necessário compreender que esse monumental obelisco é importante para o arquiteto, mesmo que acrescente pouco à sua já consagrada fama. Pode não ser essa sua melhor e mais acabada concepção arquitetônica. Brasília poderá continuar bela e extasiante muitos anos ainda sem esse obelisco. Mas não a Brasília de Niemeyer.
José Saramago continua a produzir livros, mesmo depois de ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura. As obras trazem consigo a autenticidade do escritor premiado. Desdenhar de um livro pós-prêmio pode parecer atitude movida pela inveja ou critica maldosa de algum escritor frustrado.
É sempre ousado dizer, mesmo num tempo de vacas gordas, que uma cidade dispensa monumentos supérfluos e que a literatura prescinde de mais um livro. Na expectativa de criações deslumbrantes, os cidadãos brasilienses poderão emocionar-se com o Mausoléu de Niemeyer dedicado a Juscelino Kubitscheck e ler ou reler o Ensaio sobre a Lucidez, de Saramago.

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