quarta-feira, 14 de novembro de 2007

TERRA DO GELO - ISLÂNDIA

Islândia. – A terra natal da cantora Björk é uma ilha enigmática, entre a Noruega e a Groenlândia. Pitheas, explorador grego, 400 anos antes de nossa era, a denominou Ultima Thula. Depois desse ponto, viria o desconhecido Ártico.
Três quartos de seus 308 mil habitantes - a população dobra no verão com o afluxo de turistas - vivem na capital Reykjavik – Baía da Fumaça. Assim a denominaram os primeiros exploradores ao avistar as nuvens de vapor expelido por borbulhos de águas ferventes à flor da terra. As erupções são denominadas gêiseres que se lançam a dezenas de metros de altura, a intervalos de cinco a dez minutos. A tecnologia islandesa permite canalizar esses vapores como geradores de energia.
Os 103 km2 da Ilha são um conglomerado de vulcões ativos e crateras abertas há milênios. Os terremotos, ao longo dos séculos, compuseram paisagens surpreendentes. Desfiladeiros, paredes abruptas, monumentos de pedras sobrepostas, esculturas lapidadas pelo tempo. Musgos verdes, cinzas e amarelos cobrem grandes extensões de áreas inabitadas. A natureza vive só, na solidão dos dias e das noites. Ambiente propício à meditação e à paz atraiu, já no século V, eremitas cristãos da Irlanda.
Os glaciais cobrem ainda um décimo da superfície da ilha. Os degelos anuais do verão formam rios caudalosos que se precipitam por despenhadeiros em cachoeiras e cascatas amedrontadoras e magnificentes. Os glaciais estão sendo afetados pelo aquecimento do planeta Terra. Perdem, a cada ano, 100 metros de gelo. A inundação e a submersão da ilha, embora sejam acontecimentos para os futuros islandeses, são dados que preocupam geólogos, biólogos e geógrafos que se debruçam sobre o comportamento geológico da área. Em 2007, faltou água na Islândia. O tempo não conta para o funcionamento do universo. As leis físicas não têm pressa. Os fenômenos naturais se sucedem e hoje surpreendem a imprudência e a frágil sabedoria da sociedade humana da era industrial e tecnológica.
A ecologia é um tema difícil. As relações do homem com o universo estão ainda marcadas pelo perigoso axioma bíblico que o ordena a dominar a natureza para desfrutar das riquezas que dela possa extrair. A fatura nos está sendo apresentada diariamente com inundações e secas que destroem o que os homens edificaram em espaços impróprios. O custo em sofrimentos e vidas é cada dia mais impressionante.
A pequena floresta que cobria a ilha, erguida sobre rochas há milênios, foi arrasada em 15 séculos. Na ilha, limpíssima, ordenada e rica, o carro individual elimina muitas boas intenções e discursos em defesa do ambiente natural. Em compensação, as leis do trânsito são severas e observadas, sem o auxilio de placas de limite de velocidade. As que existem são excepcionais e em locais de risco. A abundância e a riqueza induzem ao uso individual do automóvel mais do que ao compartilhamento do uso do transporte coletivo. Aceita-se estar no mesmo teatro, ouvir a mesma orquestra, mas não sentar no mesmo ônibus que tiraria de circulação 30 carros. A estultícia humana não foi ainda dimensionada.
A riqueza da ilha dá ao islandês uma fatia de 54.850 euros do bolo econômico e coloca a Islândia no quinto lugar na escala de renda dos países. A pequena população permite ao Estado uma atenção quase pessoal ao cidadão. A riqueza vem da produção e exportação de alumínio e da indústria de pescado. A indústria bancária criou um paraíso fiscal, com todos os serviços de depósitos e transferências, apoiada por eficiente sistema de informática. Atrai as transações secretas dos novos bilionários das bolsas de valores. Criadores de cavalos de raça nacional, os islandeses consagraram o pônei como símbolo da meiguice animal. Ovelhas de longas lãs circulam livremente pelos prados e montanhas e constituem o prato tradicional dos restaurantes.
Perdida como um barco no meio do oceano, a Islândia deve ser vista como ilha de escritores e poetas. Na segunda quinzena de agosto, celebra-se a Noite da Cultura, com a presença massiva de toda a população, ocupando ruas, teatros, ateliês e livrarias.
Em 1955, a Islândia arrebatou o Prêmio Nobel de Literatura, conferido ao escritor Halldór Laxness - ex-católico convertido, ex-marxista - em cuja extensa obra de contos e ensaios se destaca o romance Povo independente.

Eugênio Giovenardi, autor de SOLITÁRIOS NO PARAÍSO.
eugeniogiovenardi@yahoo.com.br

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