sexta-feira, 4 de julho de 2014

REJEIÇÃO ÀS ÁRVORES


A destruição da natureza, o corte sistemático de árvores, o aniquilamento de milhares de vidas ao longo de milênios, a desertificação das margens dos rios, para erguer habitações e cidades, guardam relação profunda com a primitiva forma de sobrevivência herbívora da espécie humana.
Há mais de 200.000 anos, nossos antepassados tinham nas árvores o abrigo e a alimentação. A evolução nos deu um cérebro capaz de perceber as mudanças climáticas. Presenteou-nos com habilidades manuais para fabricar artefatos novos de sobrevivência.
Pôde, então, a nova espécie das linhas genéticas simiescas descer das árvores, aventurar-se pelas selvas e pradarias. Banhar-se nas águas. Esconder-se nos socavões e cavernas que apareciam com o baixar dos mares.
Aprenderam de felinos e caninos a arte da caça, germe de futuras guerras. À fase herbívora, que durara milênios, sucedeu a carnívora. Uma virada e tanto. As mãos que colhiam folhas, flores e frutos serviram friamente ao instinto assassino que floresceu nas novas circunstâncias. Matar! A espécie humana aprendeu a matar. Incorporou na cultura da sobrevivência o assassinato, a morte de outras vidas e de seus semelhantes.
As árvores, que alimentaram e abrigaram a espécie humana e lhe deram o carinho maternal, passaram a segundo plano. Sair à caça como os leões, gatos, tigres e cães lhe abriu novas perspectivas. Revolucionou a organização social da sobrevivência para a reprodução da espécie. Estabeleceu os primeiros pilares da competição social entre os vários clãs.
A rejeição das árvores se consolidou com invenções orientadas ao assassinato de animais para comer. Pedras pontiagudas arremessadas, galhos transformados em flechas e lanças, fundas para lançar calhaus à distância fizeram da caça a ousada profissão de matar. Tornou-se caçador o macho homem em busca da presa. E a presa transformou-se em sonho e objeto de desejo. Onde estão e quais serão as novas presas?
Desde o começo da rejeição da árvore, estabeleceu-se a perigosa alternância: um dia é do caçador, outro, da caça. Os perigos desta vida vêm conosco desde a origem.
A ocupação gradativa das áreas geográficas do planeta, a migração de grandes populações, a matança sistemática de animais para a alimentação, estenderam-se durante milênios. Florestas foram abatidas a machados de pedra e de aço. O fogo tornou-se um decisivo auxiliar no desbravamento de imensas regiões.
Nos últimos 15.000 anos, se consolidou a rejeição ao materno ventre arbóreo. As florestas, berço de nossa espécie, foram substituídas por animais que serão mortos com técnicas modernas de assassinato para saciar a fome de sete bilhões de ex-herbívoros.
O desprezo pelas árvores assemelha-se à rejeição do ventre materno. Pretendeu ser uma saída para a independência ilusória. A interdependência dos seres vivos, porém, é uma lei da natureza e um princípio ecológico dos quais a espécie humana não pode prescindir.
Conquistar o equilíbrio entre a independência da espécie humana e a interdependência de todos os seres vivos na competição social é imprescindível para que o instinto assassino adquirido, e atuante na cultura, não transforme o dia do caçador no dia da caça.

É tempo de assinar um armistício entre a espécie humana e a natureza para consolidar a convivência social e viver em paz.

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