terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

EQUILÍBRIO ORGÂNICO


(Foto: Ecodebate)


Insisto no conceito de interdependência dos seres vivos. A vida é a frequência de onda comum da comunicação, transmissão e recepção, da pergunta e da resposta. É a única frequência do sinal vital emitido por um ser vivo e do sinal captado por outro.
A dificuldade constante de aplicar a democracia no exercício cotidiano da governança da coisa pública e da administração da população está na emissão vertical de sinais em uma frequência de direção e a incapacidade de captar sinais em outra frequência. A frequência democrática é horizontal e não vertical.
A interdependência dos seres vivos é horizontal. As vidas interdependem em busca do equilíbrio. Umas servem às outras, mesmo que algumas desapareçam para que outras as substituam e se reencontre o equilíbrio. A mão direita precisa da esquerda e vice-versa. É a democracia orgânica, o equilíbrio orgânico.
Por trás dos seres vivos há leis físicas, assim como por trás da democracia política e econômica há leis que propõem o equilíbrio entre perguntas e respostas. Não se impõem frequências. O que dificulta o diálogo, a conversa entre as partes é a confusão entre quem deve perguntar e quem, responder. Muitas respostas são dadas antes da pergunta por quem supõe saber qual é a questão antes de ser proposta. A impaciência de uma parte prepara o carro e esquece os bois.
Na vida social, entre seres humanos ou nas relações com os demais seres vivos no universo da natureza, há que se procurar as pessoas e as coisas na mesma frequência para que a comunicação feche o ciclo. O endereço, na comunicação, é importante, imprescindível. A frequência comum a todos os seres é a vida. Não basta emitir sinais. É necessário saber captá-los.
Creio que tenha conseguido, ao longo de anos, captar os sinais vitais da natureza que os transmite por meio de árvores, insetos, pássaros e de todas as espécies vivas. A vida deles entrou na minha frequência. Meu receptor estava preparado para escutar.
No sistema corrente, fruto de erros e acertos da relação e comunicação entre os membros da espécie humana e os demais seres vivos do planeta Terra, observa-se que o ser humano estabeleceu unilateralmente centros de transmissão de sinais e descurou dos receptores. Emite sinais numa frequência e obriga os demais seres a aceitá-los para adaptarem-se às suas ordens. As espécies vivas, vegetais, animais e os elementos químicos e biológicos necessários à perpetuação da vida, emitem sinais permanentes em frequências específicas nem sempre captadas pela espécie humana. Os receptores da espécie humana estão elaborados para receber apenas respostas lógicas do sistema de transmissão de sinais para sua própria subsistência e reprodução. É um estágio ainda primitivo da evolução humana.
 Isto acontece também com o sistema de comunicação no interior dos seres da espécie humana. As respostas econômicas, políticas e administrativas parecem brotar de receptores avariados. Os sinais recebidos não foram compreendidos e a linguagem não foi decodificada. A interpretação fica a cargo da lógica do sistema que emitiu sinais para obter respostas previstas. Geram-se, assim, impasses, crises, quebras.
As inundações de centenas de cidades, a devastação da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, os engarrafamentos diários do trânsito, os milhões de pessoas pobres e miseráveis, a matança cotidiana de pessoas e animais indefesos revelam a incompatibilidade de centros múltiplos e variados de emissão de sinais vitais com os receptores mal concebidos, ou mal localizados, ou simplesmente avariados pela ação unilateral da espécie humana sobre as outras.
Atravessamos um período da evolução biológica, genética, social e política de desequilíbrio orgânico. Há que restabelecer o sistema de relação e comunicação entre todos os seres vivos do planeta. Todos os diferentes centros de emissão de sinais vitais precisam construir variados receptores para situá-los na mesma frequência: a vida, riqueza essencial do planeta.
Há que se propagar a transmissão de ondas para que se espalhem velozmente, invadam todos os espaços e circulem indefinidamente no tempo. A que distância estamos uns dos outros? A que distância os transmissores estão dos receptores? Em que tempo as respostas chegarão aos receptores? Se houver erro na compreensão e decodificação dos sinais, quais as consequências?
O que deveria ser um diálogo entre a transmissão e a recepção parece converter-se em monólogo. Um monólogo de curto prazo contraposto ao diálogo de longo prazo. O interesse, o resultado imediato, o lucro agora, o dinheiro já dominam o monólogo das decisões políticas e econômicas. O tempo não entra na execução do monólogo. O diálogo requer tempo. Há séculos e milênios pela frente para que se estabeleça o diálogo entre transmissão e recepção de sinais vitais.

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