
(Foto: Ecodebate)
Insisto no conceito de interdependência dos seres
vivos. A vida é a frequência de onda comum da comunicação, transmissão e
recepção, da pergunta e da resposta. É a única frequência do sinal vital
emitido por um ser vivo e do sinal captado por outro.
A dificuldade constante de aplicar a democracia no
exercício cotidiano da governança da coisa pública e da administração da
população está na emissão vertical de sinais em uma frequência de direção e a
incapacidade de captar sinais em outra frequência. A frequência democrática é
horizontal e não vertical.
A interdependência dos seres vivos é horizontal. As
vidas interdependem em busca do equilíbrio. Umas servem às outras, mesmo que
algumas desapareçam para que outras as substituam e se reencontre o equilíbrio.
A mão direita precisa da esquerda e vice-versa. É a democracia orgânica, o
equilíbrio orgânico.
Por trás dos seres vivos há leis físicas, assim como
por trás da democracia política e econômica há leis que propõem o equilíbrio
entre perguntas e respostas. Não se impõem frequências. O que dificulta o
diálogo, a conversa entre as partes é a confusão entre quem deve perguntar e
quem, responder. Muitas respostas são dadas antes da pergunta por quem supõe
saber qual é a questão antes de ser proposta. A impaciência de uma parte
prepara o carro e esquece os bois.
Na vida social, entre seres humanos ou nas relações
com os demais seres vivos no universo da natureza, há que se procurar as
pessoas e as coisas na mesma frequência para que a comunicação feche o ciclo. O
endereço, na comunicação, é importante, imprescindível. A frequência comum a
todos os seres é a vida. Não basta emitir sinais. É necessário saber captá-los.
Creio que tenha conseguido, ao longo de anos, captar
os sinais vitais da natureza que os transmite por meio de árvores, insetos,
pássaros e de todas as espécies vivas. A vida deles entrou na minha frequência.
Meu receptor estava preparado para escutar.
No sistema corrente, fruto de erros e acertos da
relação e comunicação entre os membros da espécie humana e os demais seres
vivos do planeta Terra, observa-se que o ser humano estabeleceu unilateralmente
centros de transmissão de sinais e descurou dos receptores. Emite sinais numa
frequência e obriga os demais seres a aceitá-los para adaptarem-se às suas
ordens. As espécies vivas, vegetais, animais e os elementos químicos e
biológicos necessários à perpetuação da vida, emitem sinais permanentes em
frequências específicas nem sempre captadas pela espécie humana. Os receptores
da espécie humana estão elaborados para receber apenas respostas lógicas do
sistema de transmissão de sinais para sua própria subsistência e reprodução. É
um estágio ainda primitivo da evolução humana.
Isto acontece
também com o sistema de comunicação no interior dos seres da espécie humana. As
respostas econômicas, políticas e administrativas parecem brotar de receptores
avariados. Os sinais recebidos não foram compreendidos e a linguagem não foi
decodificada. A interpretação fica a cargo da lógica do sistema que emitiu
sinais para obter respostas previstas. Geram-se, assim, impasses, crises, quebras.
As inundações de centenas de cidades, a devastação da
Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, os engarrafamentos diários do
trânsito, os milhões de pessoas pobres e miseráveis, a matança cotidiana de
pessoas e animais indefesos revelam a incompatibilidade de centros múltiplos e
variados de emissão de sinais vitais com os receptores mal concebidos, ou mal
localizados, ou simplesmente avariados pela ação unilateral da espécie humana sobre
as outras.
Atravessamos um período da evolução biológica,
genética, social e política de desequilíbrio orgânico. Há que restabelecer o
sistema de relação e comunicação entre todos os seres vivos do planeta. Todos
os diferentes centros de emissão de sinais vitais precisam construir variados
receptores para situá-los na mesma frequência: a vida, riqueza essencial do
planeta.
Há que se propagar a transmissão de ondas para que se
espalhem velozmente, invadam todos os espaços e circulem indefinidamente no
tempo. A que distância estamos uns dos outros? A que distância os transmissores
estão dos receptores? Em que tempo as respostas chegarão aos receptores? Se
houver erro na compreensão e decodificação dos sinais, quais as consequências?
O que deveria ser um diálogo entre a transmissão e a
recepção parece converter-se em monólogo. Um monólogo de curto prazo
contraposto ao diálogo de longo prazo. O interesse, o resultado imediato, o
lucro agora, o dinheiro já dominam o monólogo das decisões políticas e
econômicas. O tempo não entra na execução do monólogo. O diálogo requer tempo.
Há séculos e milênios pela frente para que se estabeleça o diálogo entre
transmissão e recepção de sinais vitais.