segunda-feira, 1 de outubro de 2012

ÁRVORES



Sou um escritor (envergonho-me dessa afirmação) que ouve as árvores. Admiro-as. Observo-as. Elas me comovem. Falam em silêncio. Presas ao chão por suas próprias cadeias radiculares estão sempre ali, pacientes, vendo passar os dias, as estações, os equinócios, os ventos, as chuvas. Olham para cima, para o Sol, para as estrelas.
Já presenciei o desespero, os gritos de impotência, o voo sinistro das cinzas, o turbilhão de labaredas quando incêndios irracionais, descuidados devoravam campos, árvores centenárias, florestas cheias de segredos e mistérios.
Estilhaços da história do universo voavam pelos ares. Silenciaram as árvores. A vida recolheu-se às raízes. Ressurge das cinzas. Recomeça debaixo do chão, no ventre da terra. A vida, os germes da vida são obstinados.
Viver é preciso. Com persistência, com astúcia, com truques existenciais, com prazer, com tenacidade.
30.9.12

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