quinta-feira, 27 de setembro de 2012

VERDADES POPULARES




Algumas expressões espontâneas, ditas com frequência, demonstram insatisfação, inconformidade, raiva ou mesmo complexo de inferioridade masoquista do cidadão frente à realidade ou subjetividade das expectativas privadas e públicas.
– Este país é uma merda.
Num discurso improvisado, em São Luiz do Maranhão, o ex-presidente Lula afirmou que estava na hora de tirar o povo da merda. Ele se propunha essa tarefa. Parece que não conseguiu, pois, em vários locais como bancos, supermercados, no trânsito, a frase aparece com contundência entre suspiros de cansaço e impaciência.
– É um país de analfabetos.
Radicais uns, funcionais outros. Essa definição é particularmente verdadeira no trânsito. Pouquíssimos motoristas sabem ler as placas de advertência e as que mostram sinais de segurança.
– Este é um país do faz de conta.
Ou seja, as leis em muitas circunstâncias não pegam. A obrigatoriedade, a seriedade, o cumprimento, normais na Finlândia ou na Suécia, no Brasil só são exibidos se a polícia está por perto. Nem os semáforos, passagens de pedestres, taxas de condomínio representam algo a se levar em conta. É verdade que a aritmética não é o forte do brasileiro comum. Só faz contas com a ajuda da calculadora.
– É um país de ladrões.
Infelizmente, a novela do mensalão apresentada nestes dias, por 36 figurantes e dez atores de toga, parece não deixar dúvidas. Se o grande rouba, por que o pequeno deveria privar-se desse prazer civil de se apropriar da coisa pública?
– Neste país ou nesta cidade tudo é mais ou menos.
Edifícios desmoronam. Apagões são mais frequentes dos que a imprensa informa. A porta do armário da cozinha ou do banheiro não fecha direito. O desnível do piso joga a água na direção oposta ao ralo ou deixa a mesa em falso. O contêiner de lixo orgânico está entupido de garrafas, caixas de papelão e placas de isopor. A pintura das esquadrias emperra o funcionamento da janela. Milhares de obras executadas ou em execução consolidam a cultura do mais ou menos. Quando menos se espera, aí está o serviço mais ou menos prestado. Em telefonia e internet, então, o mais ou menos é a regra.
– Só depois do carnaval.
É o toque de displicência generalizada e da certeza de que o tempo é inesgotável. Somos dominados por uma capacidade infinita de adiar os compromissos impunemente e chegar atrasados aos apontamentos marcados. Qual é a diferença entre o hoje e o amanhã, se o universo caminha para o fim há bilhões de anos.
Então, agora, só amanhã.

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