quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O CARTÃO DE CRÉDITO E EU



Fatos inexplicáveis acontecem. Meu cartão de crédito do Banco do Brasil sumiu para sempre, em duas ocasiões, no decorrer de um ano.
Trago comigo, por imposição do Dr. Sistema, dois cartões de bancos diferentes para pagar contas. Lembro-me que, na cidade de Tromsa, no norte da Noruega, em 2009, quando Hilkka e eu fomos comprar as passagens de ônibus para Oslo, a agência de viagens não aceitava dinheiro. A humanidade evoluída chegou ao ponto de não confiar na moeda do próprio país.
Meus dois cartões do Banco do Brasil simplesmente sumiram de meu bolso da camisa. Nenhum nem outro dos dois foram encontrados ou achados. Não houve saques criminosos nem indícios de que tenham sido utilizados como tentativa de comprar um carro sem IPI.
Perder ou extraviar um cartão de crédito é uma dor de cabeça virtual e real. Há que bloquear o uso do cartão e exercitar a paciência pela rede telefônica. O bloqueio atinge o usuário. A atendente estagiária, com autoridade bancária, recomenda o pedido de outro cartão, com pagamento de segunda via. O dito será entregue num prazo que varia de cinco a catorze dias dependendo dos sábados e domingos que se interpõem no período.
Vi-me diante da máquina eletrônica cheia de dinheiro e instruções. Ela me olhava indiferente como se eu fosse um marciano. Minha cidadania brasileira, minha prova numérica de contribuinte pessoa física eram impotentes diante do olhar frio da tela iluminada.
Senti-me derrotado, um joão-ninguém, um pária, um marginal do sistema bancário. A máquina insensível escondia o dinheiro que me pertencia. Em pé, diante dela, olhando desanimado para aquela frieza amarela, percebi o horror de ter minha humanidade reduzida a um cartão de plástico.
A política da igualdade econômica dos cidadãos se baseia na importância pessoal de possuir ou não um cartão de crédito. Somos todos iguais perante a máquina eletrônica. O acesso livre, democrático e igualitário ao nosso próprio dinheiro depende de um cartão de plástico aprovado pelo Dr. Sistema. A fidelidade à palavra honrada está substituída pelo cartão fidelidade.
– Para facilitar nosso atendimento, tenha em mãos o número de seu cartão, me disse uma voz virtual quando, humilhado, tentei comunicar ao Dr. Sistema minha temporária situação de marginalidade cidadã.
Como pôde a humanidade sobreviver durante 30 ou 40 mil anos sem cartão de crédito?

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