Tenho um amigo, Rafael Sanzio, geógrafo, professor renomado
da Unb, a quem jamais me ocorreria identificá-lo como afrodescendente, mulato,
moreno ou, pior ainda, pardo. Rafael Sanzio é negro, de ponta a ponta. Tudo
nele é negro: sorriso, expansividade, fluência verbal, ironia, sarcasmo, competência.
A negritude de Rafael Sanzio luze em qualquer ambiente.
Dou outros exemplos em que a patrulha ideológica, racial e
social não tem sentido de se levantar contra a beleza dessa palavra e a riqueza
de seu significado. Há canções, lendas e expressões que perderiam toda sua força
e inspiração sem a presença dessa palavra mágica.
– Índia, teus cabelos, nos ombros caindo, negros como a noite que não tem
luar..
– A coisa aqui está preta, dizia Chico Buarque, há alguns anos. E
continua.
– O Negrinho do Pastoreio poderia ser branco? E o Saci? E o
meigo Preto Velho? Na África, o Papai Noel é negro.
Nossa cultura, na qual a mentira é oficial e os eufemismos
floreiam a linguagem, prefere-se o subterfúgio e a hipocrisia. Nada mais
robusto do que dizer nuvens negras, amedrontadoras. Trata-se de nuvens que
despejam água e água é vida. É apenas outra maneira de ver e compreender o
mundo.
Minha amiga V. S., carinhosamente, chama seu homem de Negrão
e o amado esposo é branco. Quanta mulher branca, de cabelo louro, diz a seu
homem branco: vamos neguinho.
Em alguns países latino-americanos as mulheres não dizem “mi
esposo” e, sim, “mi negro”. Querem um negro ao lado, mas vivem com um branco
espanhol.
Vamos soltar o negro sequestrado pela quadrilha semântica.
Não sou eurodescendente. Eu sou branco e não vai nisso
nenhuma ofensa.
Caro amigo Rafael Sanzio, você é negro de corpo inteiro. Negríssimo
e humaníssimo.
Um comentário:
A maior virtude de um homem, não está na cor da sua pele, nem nos traços da sua raça. Mas nas atitudes, no respeito ao próximo. Tenho amigos negros, e os respeito da mesma forma, que respeito uma pessoa branca. Para mim a cor da pele e irrelevante, nos vivemos nos país onde ser branco, não é uma unanimidade.
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