As vitrinas são do tempo em que não havia internet. Ao longo das calçadas das ruas de Paris, elas desfilam incansavelmente todas as modas, da cabeça aos pés. Muitas mulheres usam a vitrina para arrumar o vestido, pentear o cabelo, competindo com manequins de caras surpresas e outros sorridentes. Proprietários atentos colocaram um verdadeiro espelho, grande, generoso, gentil para essas funções secundárias. Os virtuais clientes passam pelo espelho e, se ouvem um bom conselho, olham a vitrina e entram.
A senhora que ia à minha frente passava dos 70 anos, pequena, magra, guardava sua antiga e conformada feiúra. Caminhava de vagar, sapato raso e uma pasta de couro na mão. Parou diante do espelho. Eu vi seu rosto lá dentro e o espelho não lhe fez nenhuma concessão. Vi seu olhar de desgosto e decepção. Ouvi o que ela disse, resumindo sua conformação mortal:
− C’est ça!
E o disse a si mesma como se estivesse convencendo alguém sobre uma verdade inquestionável. Continuou sua caminhada, indiferente às vitrinas que a convidavam a entrar. Ela seguia remoendo a tese filosófica que o espelho lhe havia exposto com a frieza de Aristóteles e de Cícero sobre o tempo que passa e a arte de envelhecer. O tempo não tem culpa quando o espelho nos diz que os anos passaram e nos levaram consigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário