segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CIDADÃO DO PLANETA TERRA

Pedro de Montemor surpreendeu-me com uma carta escrita há uma semana.
“Tenho uma boa história. Creio que só poderia acontecer aqui. Tomei o ônibus que faz a linha do local onde me hospedo e o Quartier Latin. Sentei-me na única poltrona solitária perto da janela. Na parada seguinte, subiram duas senhoras completamente francesas. Num gesto espontâneo de cidadania, levantei-me e ofereci o lugar. Um delas agradeceu sem sorrir e sentou. Era mais jovem do que eu e ainda bonita.
Logo depois, vagou um assento. Fui ocupá-lo ao lado de um senhor que, levantando-se, me facilitou o acesso. Era dez anos mais velho do que eu, cabelos alvíssimos, a boca repuxada para o lado direito. Mancava de uma perna. Olhou-me, procurou identificar minha origem e para confirmar suas apostas, perguntou-me:
− De que país vem o senhor?
Ocorreu-me de forma fulminante uma resposta singular.
− Sou cidadão do planeta Terra.
Ele se assustou, enrugou a fronte e eu continuei:
− Qualquer pedaço do planeta Terra me dá a sensação de liberdade, de curiosidade e, em todo o caso, o desconhecido é o mesmo, as agruras e os amores são os mesmos. As árvores e as águas em qualquer parte da Terra são minhas amigas e com elas me demoro em longas conversas.
Disse-lhe tudo isso em francês e ele tolerou educadamente as agressões que cometi contra sua língua. Olhou-me com um olhar de 85 anos e esperou que lhe dissesse enfim o nome de um país. Em vez disso:
− Tenho quatrocentos anos de história italiana e mais de 70 em países da América do Sul.
− Que faz em Paris?, perguntou-me, cansado de minha filosofia.
− Vim descansar das agruras e dos amores que atropelam o ser humano em qualquer país. É mais fácil suportar a Terra do que um país.
Não acha você?
Lembranças planetárias.”

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