As perguntas
essenciais que precisam ser respondidas, em nossa época, pela espécie humana se
referem à sua sobrevivência. E a sobrevivência está ligada às difíceis condições climáticas que o
planeta apresenta. O impacto do
aquecimento global no mundo será “grave, abrangente e irreversível”, conforme
relatório divulgado em 31 de março de 2014 pelo Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU.
O foco da igualdade
econômica pela participação universal na propriedade dos meios de produção e na
repartição dos bens materiais e imateriais produzidos transferiu-se para a
igualdade de sobrevivência da espécie humana.
A ajuda econômica,
financeira e tecnológica dos países ricos aos países pobres ou a distribuição
de parte dos impostos arrecadados aos mais pobres, ainda que sua situação
imediata se alivie, não são mais suficientes para garantir a sobrevivência da
espécie humana.
O ponto crucial,
hoje, é o esgotamento do planeta. A espécie humana, em algumas regiões da Terra,
não tem mais o que tirar dela para sobreviver. Além disso, pouco se investiu
para regenerar as energias que a sustentassem. Outras regiões do planeta como a
América do Sul, e nela o Brasil, foram rigorosamente atacadas por processos
tecnológicos eficazes, medidas administrativas convincentes e capital arrasador,
e transformadas ufanisticamente em celeiros de reserva para abastecer os
consumidores de outros países.
Em algumas regiões
sobraram riquezas subterrâneas: petróleo, gás e xisto que servem às
necessidades humanas e, ao mesmo tempo, põem em risco iminente a sobrevivência
humana universal.
A prioridade
estabelecida, há décadas, para reduzir as desigualdades constrangedoras e
humilhantes que marcam habitantes de um país, ou de países, se revelou morosa,
parcial e insuficiente. A redução, ainda que plausível, das desigualdades
funcionais das pessoas frente ao progresso econômico e as dificuldades de
participação política desembocaram em manifestações de descontentamento em
quase todos os países do globo. O Brasil, desde junho de 2013, é um cenário
caótico de manifestações agressivas e desestabilizadoras da convivência social.
Novos critérios de igualdade
humana devem ser estabelecidos. Critérios mais generosos e abrangentes que ultrapassem
os procedimentos ideológicos de conquista do poder. Não bastam indicadores que ressaltam
os resultados estatísticos de diminuição da desigualdade pelo aumento percentual
de renda e acesso a bens materiais.
O critério básico da
igualdade com relação à sobrevivência da espécie humana refere-se à compreensão
inteligente dos habitantes do planeta de sua dependência ecológica submetidos
às energias dos fenômenos naturais. São esses fenômenos que determinam a
sobrevivência e o comportamento das pessoas diante de suas manifestações.
O relacionamento
inteligente da espécie humana com a natureza que determina a interdependência
de todos os seres vivos é a base da igualdade a ser incentivada especialmente
nesta época em que o planeta está superpovoado e exaurido.
A produção de bens
necessários à sobrevivência, os rápidos avanços tecnológicos, o uso e o
desfrute comedido das riquezas naturais limitadas dependem, no momento atual
das mudanças climáticas, de reorientação urgente de comportamentos individuais
e coletivos.
Diante das
dificuldades de sobrevivência a serem enfrentadas, a espécie humana,
independentemente de gênero ou condição social, econômica e cultural, terá que
tomar medidas concretas e inadiáveis sobre alguns pontos mais sensíveis. Tais
como:
Preservação
incondicional de fontes de água: mananciais, áreas de recarga de aquíferos, rios
e lagos, captação de águas pluviais em reservatórios urbanos e rurais.
Preservação radical
de florestas, pântanos, vegetação nativa em diferentes biomas, reflorestamento
nativo de áreas degradadas por obras de infraestrutura, pela produção agrícola
e pecuária extensiva, em margens de rodovias e proteção de parques para refúgio
de espécies animais.
Redução drástica de
emissão de gases de efeito estufa e da queima de combustível fóssil,
especialmente de produtos à base de petróleo.
Substituição de
fontes de energia tanto para fornecimento de eletricidade quanto para a
mobilidade humana e transporte de mercadorias.
Geração massiva de
empregos verdes ou postos de trabalho com recursos públicos e privados,
comprometendo toda a população, na cidade e no campo, na preservação do
ambiente favorável à saúde e à sobrevivência. Emprego verde em áreas de reflorestamento,
coleta sistemática e tratamento de lixo, combate preventivo a incêndios
florestais, reaproveitamento criativo da riqueza natural e do descarte
industrial. Esses empregos serão ligados à produção de conhecimentos, escolas,
centros de pesquisa, observação da natureza e intercâmbio cultural com o fim de
reforçar os sentimentos e a compreensão da igualdade essencial da população
diante da sobrevivência da espécie humana.
Os pretendentes à
administração da população brasileira terão pela frente, nos próximos anos, a
responsabilidade de gerir criteriosas e estimulantes ações de preservação
ecológica e ambiental na concretização de programas econômicos que garantam
condições de tranquilidade a nossos netos e bisnetos. A convivência social se
tornará mais fácil e agradável à medida que a espécie humana aprimorar os
termos de convivência com a natureza.
6.5.2014
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