quarta-feira, 7 de maio de 2014

NOVOS CRITÉRIOS DE IGUALDADE


As perguntas essenciais que precisam ser respondidas, em nossa época, pela espécie humana se referem à sua sobrevivência. E a sobrevivência está  ligada às difíceis condições climáticas que o planeta apresenta. O impacto do aquecimento global no mundo será “grave, abrangente e irreversível”, conforme relatório divulgado em 31 de março de 2014 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU.
O foco da igualdade econômica pela participação universal na propriedade dos meios de produção e na repartição dos bens materiais e imateriais produzidos transferiu-se para a igualdade de sobrevivência da espécie humana.
A ajuda econômica, financeira e tecnológica dos países ricos aos países pobres ou a distribuição de parte dos impostos arrecadados aos mais pobres, ainda que sua situação imediata se alivie, não são mais suficientes para garantir a sobrevivência da espécie humana.
O ponto crucial, hoje, é o esgotamento do planeta. A espécie humana, em algumas regiões da Terra, não tem mais o que tirar dela para sobreviver. Além disso, pouco se investiu para regenerar as energias que a sustentassem. Outras regiões do planeta como a América do Sul, e nela o Brasil, foram rigorosamente atacadas por processos tecnológicos eficazes, medidas administrativas convincentes e capital arrasador, e transformadas ufanisticamente em celeiros de reserva para abastecer os consumidores de outros países.
Em algumas regiões sobraram riquezas subterrâneas: petróleo, gás e xisto que servem às necessidades humanas e, ao mesmo tempo, põem em risco iminente a sobrevivência humana universal.
A prioridade estabelecida, há décadas, para reduzir as desigualdades constrangedoras e humilhantes que marcam habitantes de um país, ou de países, se revelou morosa, parcial e insuficiente. A redução, ainda que plausível, das desigualdades funcionais das pessoas frente ao progresso econômico e as dificuldades de participação política desembocaram em manifestações de descontentamento em quase todos os países do globo. O Brasil, desde junho de 2013, é um cenário caótico de manifestações agressivas e desestabilizadoras da convivência social.
Novos critérios de igualdade humana devem ser estabelecidos. Critérios mais generosos e abrangentes que ultrapassem os procedimentos ideológicos de conquista do poder. Não bastam indicadores que ressaltam os resultados estatísticos de diminuição da desigualdade pelo aumento percentual de renda e acesso a bens materiais.
O critério básico da igualdade com relação à sobrevivência da espécie humana refere-se à compreensão inteligente dos habitantes do planeta de sua dependência ecológica submetidos às energias dos fenômenos naturais. São esses fenômenos que determinam a sobrevivência e o comportamento das pessoas diante de suas manifestações.
O relacionamento inteligente da espécie humana com a natureza que determina a interdependência de todos os seres vivos é a base da igualdade a ser incentivada especialmente nesta época em que o planeta está superpovoado e exaurido.
A produção de bens necessários à sobrevivência, os rápidos avanços tecnológicos, o uso e o desfrute comedido das riquezas naturais limitadas dependem, no momento atual das mudanças climáticas, de reorientação urgente de comportamentos individuais e coletivos.
Diante das dificuldades de sobrevivência a serem enfrentadas, a espécie humana, independentemente de gênero ou condição social, econômica e cultural, terá que tomar medidas concretas e inadiáveis sobre alguns pontos mais sensíveis. Tais como:
Preservação incondicional de fontes de água: mananciais, áreas de recarga de aquíferos, rios e lagos, captação de águas pluviais em reservatórios urbanos e rurais.
Preservação radical de florestas, pântanos, vegetação nativa em diferentes biomas, reflorestamento nativo de áreas degradadas por obras de infraestrutura, pela produção agrícola e pecuária extensiva, em margens de rodovias e proteção de parques para refúgio de espécies animais.
Redução drástica de emissão de gases de efeito estufa e da queima de combustível fóssil, especialmente de produtos à base de petróleo.
Substituição de fontes de energia tanto para fornecimento de eletricidade quanto para a mobilidade humana e transporte de mercadorias.
Geração massiva de empregos verdes ou postos de trabalho com recursos públicos e privados, comprometendo toda a população, na cidade e no campo, na preservação do ambiente favorável à saúde e à sobrevivência. Emprego verde em áreas de reflorestamento, coleta sistemática e tratamento de lixo, combate preventivo a incêndios florestais, reaproveitamento criativo da riqueza natural e do descarte industrial. Esses empregos serão ligados à produção de conhecimentos, escolas, centros de pesquisa, observação da natureza e intercâmbio cultural com o fim de reforçar os sentimentos e a compreensão da igualdade essencial da população diante da sobrevivência da espécie humana.
Os pretendentes à administração da população brasileira terão pela frente, nos próximos anos, a responsabilidade de gerir criteriosas e estimulantes ações de preservação ecológica e ambiental na concretização de programas econômicos que garantam condições de tranquilidade a nossos netos e bisnetos. A convivência social se tornará mais fácil e agradável à medida que a espécie humana aprimorar os termos de convivência com a natureza.


6.5.2014

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