quarta-feira, 7 de maio de 2014

MORTE DO JATOBÁ





Na primavera de 2013, acompanhei a brotação das árvores em frente à janela de meu quarto-escritório. Há cinco anos, trouxera do Sítio das Neves uma promissora muda de jatobá. Plantei-a em frente à janela. Cresceu com raro entusiasmo e, por cinco anos, parecia gostar da vida urbana e do ruído permanente da L-2 Sul.
A primavera já ia ao meio e o jatobá que atingira a altura de 12 metros não rebrotou. Dezenas de galhos secos espetavam o ar. Um sentimento de tristeza me invadiu. Apoiado ao parapeito da janela, disse a Hilkka a meu lado: “O jatobá morreu”!
Olho todos os dias para o jatobá seco e inerte. Morreu aos cinco anos de idade. Em seus galhos secos, diariamente pousam sabiás, beija-flores, bem-te-vis, dezenas de caturritas conversadeiras, anus-pretos e pardais. Prolongam os funerais, cantam elegias e fazem do jatobá um ponto de encontro.
Por que os pássaros procuram os ramos secos do jatobá? Lá de cima, os pássaros me observam, apreciam o vasto horizonte, percebem quem se aproxima, alertam contra presenças perigosas e não desistem de esperar por migalhas de pão e água de mel no bebedouro para alegrar a vida.
Mesmo seco e morto, o jatobá mantém a serenidade e a paciência que são virtudes de todas as árvores. Depois de morto, continua amigo dos passarinhos e alimenta a nostalgia dos tempos em que ele me olhava verde e carinhoso.


7.5.14

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