Bem cedo, entre as árvores que vi nascerem e
crescerem, percebo a grandeza eloquente do universo. Estou nele, na casca de um
planeta que gira a 30 km por segundo no espaço dilatado.
O chiado do ribeirão que se precipita no estreito de
pedras, com ânsias de chegar ao oceano, me fala do tempo. O ribeirão corre dia
e noite. Suas águas se voltam para o futuro oceânico. Vão para frente sem
esquecer o olho d’água que ficou para trás, no passado. O ribeirão me da o
presente, enquanto corre para o futuro sempre ligado ao passado cada dia mais
distante.
No planeta que
me abriga, sinto o universo. O planeta se me revela pelo ribeirão, pelo olho
d’água. E, como eu, as saracuras, cujo relógio marca pontualmente o nascer da
aurora, alertam para o presente, para mais um tempo de vida.
E as seriemas saem a caçar comida com espalhafatosos gritos
anunciando às possíveis presas que o universo é “todos por um e um por todos”. E
o beija-flor, sugando o néctar no copo vermelho do hibisco, mostra o outro lado
da utilidade das flores.
E, as árvores, pacientes, confabulando ao ritmo dos ventos
de outono, trabalham em silêncio a transformação de gases para a continuidade da
vida.
E o vento balança meus desejos, meus temores, meu frágil
broto de felicidade, minha delicada certeza de que eu passei como ele pelas ramadas
das plantas perdendo-me no horizonte.
Na quietude deste ermo, a imensidão do universo cabe numa
gota de orvalho que eu toco com os dedos. Como a gota de orvalho, meu ser e bilhões
de estrelas navegamos espalhados no espaço, na direção do futuro, ligados ao olho
d’água da vida que um dia iluminou o universo.
21.4.2013
2 comentários:
Eugenio brinda a seus leitores com mais um pouco de inteligência e de sensibilidade.
Que sorte que tenho de poder ler seus textos.
Obrigado Eugenio e uma excelente semana pra você.
Um beijo amigo e fraterno do Plínio.
parabéns pelo bom gosto e sensibilidade Eugenio.
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