segunda-feira, 22 de abril de 2013

UNIVERSO NUMA GOTA



       Bem cedo, entre as árvores que vi nascerem e crescerem, percebo a grandeza eloquente do universo. Estou nele, na casca de um planeta que gira a 30 km por segundo no espaço dilatado.

O chiado do ribeirão que se precipita no estreito de pedras, com ânsias de chegar ao oceano, me fala do tempo. O ribeirão corre dia e noite. Suas águas se voltam para o futuro oceânico. Vão para frente sem esquecer o olho d’água que ficou para trás, no passado. O ribeirão me da o presente, enquanto corre para o futuro sempre ligado ao passado cada dia mais distante.
 No planeta que me abriga, sinto o universo. O planeta se me revela pelo ribeirão, pelo olho d’água. E, como eu, as saracuras, cujo relógio marca pontualmente o nascer da aurora, alertam para o presente, para mais um tempo de vida.
E as seriemas saem a caçar comida com espalhafatosos gritos anunciando às possíveis presas que o universo é “todos por um e um por todos”. E o beija-flor, sugando o néctar no copo vermelho do hibisco, mostra o outro lado da utilidade das flores.
E, as árvores, pacientes, confabulando ao ritmo dos ventos de outono, trabalham em silêncio a transformação de gases para a continuidade da vida.
E o vento balança meus desejos, meus temores, meu frágil broto de felicidade, minha delicada certeza de que eu passei como ele pelas ramadas das plantas perdendo-me no horizonte.
Na quietude deste ermo, a imensidão do universo cabe numa gota de orvalho que eu toco com os dedos. Como a gota de orvalho, meu ser e bilhões de estrelas navegamos espalhados no espaço, na direção do futuro, ligados ao olho d’água da vida que um dia iluminou o universo.

21.4.2013

2 comentários:

PLINIO MÓSCA TEATRO BRASIL disse...

Eugenio brinda a seus leitores com mais um pouco de inteligência e de sensibilidade.
Que sorte que tenho de poder ler seus textos.
Obrigado Eugenio e uma excelente semana pra você.
Um beijo amigo e fraterno do Plínio.

PLINIO MÓSCA TEATRO BRASIL disse...

parabéns pelo bom gosto e sensibilidade Eugenio.