Ao leitor desta página: por motivo das últimas intervenções pessoais do ex-presidente no âmbito da justiça, com pinta de pontífice máximo da religião que dirige, permito-me reprisar crônica que publiquei em outubro de 2010.
Concebido e gerado no ventre das Comunidades Eclesiais de Base
criadas pela Igreja de Roma, no Brasil, entrando pelo caminho nivelado pelo general Golbery, o Partido dos Trabalhadores foi
batizado e crismado pelo DNA fundamentalista cristão e católico. Catolicismo e
petismo têm relações de mãe para filho. O traço genético que os une é o arcabouço
institucional autoritário. A mesma burocracia eclesiástica e clerical do
Vaticano se reproduz na organização estrutural do PT.
Os cardeais da Igreja e os do PT definem as regras do jogo,
dos ritos, da fé, das crenças e dos sacramentos. A Igreja sem papa não subsiste.
O PT sem Lula se extingue. O papa é a Igreja. Lula é o PT. O papa é infalível,
não erra. Tudo o que diz é aceito como verdade irretocável e repetido pelo
rebanho de bispos e padres. Lula decide, ordena, orienta, não sabe o que fazem
seus bispos e vigários e os inocenta. A Igreja impõe a verdade única porque é
divina. O petismo lulista determina o pensamento único porque é fascista.
A Igreja é conservadora e se acomoda ao andar da sociedade
para sobreviver. O PT imita a mãe e usa os mesmos cosméticos e se veste
obedecendo à moda política e econômica dos novos tempos.
A corrupção moral e financeira de cardeais, bispos e
sacerdotes não pode alcançar o papa. As maracutaias dos aloprados petistas, a
corrupção dos revolucionários, o mensalão e o caixa dois de senadores, deputados e do alto clero do PT não
atingem Lula.
O papa é aclamado pela alta cúpula clerical e pela plebe. Lula
é o papa do Brasil. A Igreja almoça com os poderosos, mas não esquece os pobres
do mundo porque deles é o reino dos céus. O PT se uniu aos banqueiros e aos
grandes empresários, mas cuida dos excluídos do país porque deles é que vêm os
votos que o manterá no poder. A Igreja acomodou os poderosos e os pobres. O PT
se aliou aos ricos, formou uma nova elite consumidora e pacificou os pobres.
Mas os pobres, cuja capacidade de receber é infinita, poderão abandonar Lula
como abandonaram a Igreja ao não lhe dar tudo quanto pediram e esperaram. Na
rebelião dos excluídos, Lula não controlará nem os ricos nem os pobres.
A Igreja, quando não consegue impor sua doutrina,
contemporiza, coopta, sublima ou arrasa culturas, justifica adaptações em nome
de Deus. O PT, não podendo impor ao país sua revolução socialista idealizada
nas portas das fábricas, convenceu os trabalhadores a domesticar o capitalismo
da direita, eliminando qualquer possibilidade de oposição por osmose doutrinária
e simbiose política e moral. A cereja sobre o bolo totalitário e fascista é
extinguir a oposição política. A oposição está morta, mas insiste em dar
dignidade ao velório.
Na Igreja, encontram-se adeptos das doutrinas morais,
econômicas e políticas da extrema direita à ponta esquerda. No PT, a revolução
socialista foi esquecida, mas a nostalgia totalitária por ditadores de direita
e de esquerda reacende o ânimo dos estrategistas do poder absoluto.
Os erros, as mentiras, os equívocos doutrinários da Igreja
são apagados com um pedido de perdão histórico. O petismo justifica seus erros
e sua corrupção ideológica alegando que o mundo evoluiu e seus revolucionários
acompanharam as mudanças.
O petismo subsistirá na medida em que, à imitação de sua mãe
católica, seja capaz de manter Lula no Vaticano pátrio e garantir a manipulação
de todos os departamentos da máquina governamental entregues a subordinados submissos,
dispostos a darem a própria vida na arena política sem medo de ser felizes no
paraíso ou no inferno.
O país está diante de uma imponderável perspectiva
democrática além do fugaz voto eleitoral. Não há indícios de que a Igreja pretenda
amaldiçoar seu filho pródigo por ter desperdiçado o patrimônio revolucionário querido
e ordenado pelo Deus do Vaticano.
O lulismo petista será vencido por si mesmo, pelo cansaço,
pelo esgotamento de sua fantasia de poder e pela náusea moral que a promiscuidade
ideológica provocará na sociedade em poucos anos.
Blog 02.08.2010
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