Às vésperas da Conferência Rio+20 e da Brasília+50, cresce a
excitação investigativa sobre o termo “sustentável”. Cidades sustentáveis (milhões
de automóveis, ocupação de morros e margens de rios, alagamentos, desmoronamentos
de encostas, não captação de águas pluviais), agricultura sustentável
(desmatamento da Amazônia, do Cerrado para produção de commodities, desperdício
de água) e economia verde referem-se diretamente à produção de alimentos, à satisfação
de necessidades de sobrevivência, reprodução da espécie e ao conforto da população.
O aumento da população, no campo e nas cidades, provoca
diretamente uma ampliação da produção de bens de consumo e de serviços que se define
como “crescimento econômico”. Os bens e os serviços são todos retirados da natureza
pela criatividade humana, com o fito de sobrevier e se reproduzir. Não há outra
fonte. É a natureza que nosso único planeta nos presenteia.
A população cresce em todos os cantos da Terra. Em uns com
mais intensidade que em outros. Em alguns países, a população consome mais e, não
podendo produzir tudo, importa de outros lugares. Em outros países, mesmo
exportando alimentos ou produtos que geram riqueza supérflua como petróleo,
diamantes e ouro, a população não usufrui um nível de vida semelhante ao de nações
ricas. Há, finalmente, uma população estimada, hoje, em 2 bilhões de pessoas
que não consomem ou mal conseguem o necessário para sobreviver parte do tempo
que a existência lhes destinaria.
Por isso, o crescimento assimétrico, desencontrado da
economia em um país ou no conjunto dos países, não está propiciando bens de
consumo e de serviços a toda a população do planeta. Para diminuir a
desigualdade entre os consumidores de bens e serviços, será irracional pôr a
criatividade humana no estímulo ao crescimento econômico indefinido e infinito.
Há, hoje, tecnologia suficiente para obter do planeta alimentos e riquezas para
o conforto humano. No entanto, um terço da população do planeta não consegue
obter bens essenciais necessários à sobrevivência – água potável, alimento
suficiente e teto adequado.
Para dar sentido ao termo sustentável, em qualquer circunstância,
será necessário conduzir a criatividade racional das pessoas habitantes do
planeta, ao mesmo tempo, em duas direções. A primeira, reduzir a zero, gradativa
e implacavelmente, o crescimento da população humana no planeta para
proporcionar melhor divisão aritmética, política e ecológica dos bens e dos
serviços retirados das riquezas naturais. Com esta medida, diminui-se drasticamente
o tamanho dos rebanhos artificialmente estimulados para produzir proteínas. No Brasil,
o rebanho bovino é igual, em número, ao de habitantes. As áreas verdes, em
consequência, teriam tempo de se recompor e aumentar.
A segunda se refere à mudança radical nos hábitos de consumo
e na ocupação dos espaços verdes para reduzir gradativamente o impacto sobre a
natureza, isto é, sobre os elementos essenciais: água, oxigênio e ar puro.
Melhoraria, em consequência o impacto da natureza sobre as pessoas e todos os
seres vivos.
Repete-se, hoje, com mais frequência, pelos meios de comunicação,
que se toda a população da Terra quisesse e pudesse consumir como o americano,
o canadense ou os ricos brasileiros torna-se ridículo e insensato discutir a
sustentabilidade das cidades e da agricultura, pois se necessitariam ao redor
de quatro planetas e só temos um.
Passaram-se 20 anos desde a Conferência Eco-92 (Rio+20). O
crescimento econômico foi estimulado, saudado, louvado e levantado como
bandeira eleitoral. Mas o avanço do crescimento dito “sustentável” se
precipitou no abismo da insustentabilidade. O termo “sustentável” passou a
representar uma quase superstição religiosa. Talvez tenha sido essa superstição
que levou uma empresária carioca a perguntar publicamente diante dos majestosos
estádios que se abrirão para os jogos da Copa do Mundo:
– Afinal, o que é sustentabilidade?
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