Relatos históricos, etnográficos e antropológicos sobre os habitantes das terras e rios brasileiros ocupados pelos portugueses, em 1500, não mencionam, em momento algum, o desemprego como consequência da organização social autóctone. Conclui-se que um mundo diferente já foi possível.
O desemprego, o boicote à criatividade de imensas populações
é uma invenção da era industrial que veio para ficar. O desemprego, em nossa
era pós-industrial, encontrou na tecnologia e na esperteza formas de ter
dinheiro sem ter a carteira de trabalho assinada, um dos sonhos do brasileiro.
Há dez mil anos, quando a produção de alimentos conseguiu
excedentes para períodos não produtivos, organizaram-se os artistas, os
músicos, os escribas, os sacerdotes para o ócio intelectual sob a regênvia de
um monarca. O campo produzia. As aldeias desfrutavam da abundância. Hoje, em
escala maior e mais sofisticada, o ócio tecnológico domina os governos, a
burocracia generalizada, as finanças e todas as atividades virtuais,
especialmente a informação e a comunicação. Fala-se diariamente com pessoas
invisíveis e desconhecidas.
O desemprego, que era caracterizado pela falta de renda,
consistia numa espécie de punição sem culpa. Voltamos, agora, à era
pré-colombiana. Não temos desemprego no sentido clássico da falta de
remuneração. O PIB, uma espécie de zumbi infiltrado na economia, cresce mesmo
com 70 milhões que não têm emprego econômico, pois todos recebem uma
remuneração como prêmio do ócio para não perturbar a paz da organização social.
Um mundo diferente está sendo possível, isto é, obter renda
sem emprego. Nos estacionamentos diurnos e noturnos, oficiais ou extraoficiais,
nos semáforos, nas portas dos bancos, supermercados e restaurantes, pelo
telefone, rádio, TV e Internet, arrecada-se dinheiro ocioso. Há formas um pouco
mais arriscadas de se obter dinheiro. Neste caso, o volume de dinheiro é
proporcional ao risco.
Diz a polícia especializada. neste ramo de arrecadação de
dinheiro. que a distração é a porta de entrada do cofre. Sequestros criativos
levam jovens casais e aposentados distraídos aos caixas eletrônicos e lhes
sacam as economias ociosas. As drogas, comandadas por armas roubadas ao
exército, por distração, chegam aos incautos. Funcionários de bancos ou órgãos
do governo se aproveitam das distrações dos colegas e transferem somas de uma
conta a outra.
Até a senhora Dilma Rousseff, mãe do PAC, ex-chefe da Casa
Civil e hoje presidente da república, numa ligeira distração, estressada pelas
atividades burlescas de companheiros aloprados, foi vítima da Delta e dos
meninos delinquentes do Cachoeira que lhe tomaram bilhões de reais.
É o mundo diferente, não só possível como real, no qual
vivemos. Somos todos empregados e remunerados para pagar o ócio da câmara dos
deputados, do senado e do governo.
Saúde!
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