sexta-feira, 6 de agosto de 2010

DECRESCIMENTO ECONÔMICO

Nota: Este extrato faz parte de um capítulo de meu próximo romance - SILÊNCIO.

Na vida, disse-me Pedro de Montemor, certa ocasião em que discutíamos assuntos delicados de ordem moral e política, temos que ser radicais sem perder a ternura. Ternura queria dizer sem impor aos outros nossas convicções, mas não temer em manifestá-las e vivê-las.
Digo-lhe, portanto, leitor eventual, que sou a favor do decrescimento econômico a começar pelo controle rígido da natalidade. Meu argumento é simples, cortante e mortal. Com menos população, menos tudo. Menos produção agrícola, menos ocupação do solo, menos devastação. Mais espaço para a felicidade. Voltaríamos ao uso racional das riquezas naturais. Os economistas não falariam mais em crescimento econômico, em PIB e esqueceriam esses irritantes percentuais que ninguém entende a que se referem. Comentariam exaustivamente sobre árvores, bosques, águas cristalinas, traduzindo suas conclusões para o quociente de felicidade universal.
Melhorar, ajustar, aperfeiçoar é sempre desejável e compatível com a radicalização. Pode-se viver com menos objetos e mais alma, mais abundância humana, envoltos numa felicidade vegetal, livre, ao sabor dos ventos e do tempo. A humanidade percorreu pacientemente alguns milhões de anos, dando tempo ao tempo. Nessa trajetória, satisfez necessidades básicas, abriu-nos caminho para continuar ouvindo estrelas e resistiu aos perigos da vida com a mesma esperança juvenil que nos incita nos dias atuais.
A sabedoria, desde a era não incluída na memória histórica, é um território a conquistar passo a passo. E desde que a tradição oral guarda registros, houve sábios, no Oriente, que se debateram contra as paredes do desconhecido para compreender sua própria origem e adivinhar o para onde vamos, o destino da existência,
A humanidade, hoje, conhece mais. Fabrica mil engenhos úteis e inúteis. Dá a si mesma todas as facilidades para vencer distâncias. As pessoas, consciente ou inconscientemente, sentem-se distantes de algum ponto imaginável e invisível. Embarca em avião. Compra carros velozes e corre para se aproximar desse alvo sem saber qual.
E o território da sabedoria continua inexplorado. Pouco ou nada se sabe da origem da vida nem do destino que nos surpreende a cada nascer do sol. Com muito menos engenhos pode-se ter a mesma certeza de viver e morrer sem compreender o começo e o fim. O espaço entre a origem e o destino é suficientemente amplo para conter a inquietude milenar da humanidade. A única certeza é que vamos para o lado oposto de onde viemos.
O crescimento econômico não resolvera o enigma de nossa origem e de nosso destino. Apenas aumenta a angústia e a ansiedade.

2 comentários:

Wilson Garcia disse...

Concordo em parte com voce,dificilmente chegara alguma era em que se conseguira acontrolar a natalidade no planeta,simplismente porque êste é um instrumento do outro lado para manter almas indo e vindo a este, e a outros planetas, no maximo podera ser mais seletivo êstes nascimentos,porque êste mundo nosso panetinha existe apenas para apredizado e evoluçao de almas eternas e idestrutiveis a caminho da perfeiçao dentro de tôdo o universo.

Anônimo disse...

Wilson,
Gostei de seu humor a respeito da procriação humana.
Esperemos que o outro lado colabore com nossa incapacidade de administrar tanta gente sem destino.
Eugênio