Há dias não falava com meu amigo Pedro de Montemor. Nossa conversa foi dominada pelo affaire Sarney, um impoluto cidadão, nada comum que se apropriou do Maranhão e do Amapá. Salvou o país do comunismo, entrando nas fileiras patrióticas dos golpistas do glorioso exército nacional.
Governou o Brasil redemocratizado com a inesperada herança recebida de Tancredo Neves. Dirige atualmente e pela terceira vez o vetusto senado da República e desconhece o que se passa nos porões secretos. Elegeu seu filho à deputação federal e contratou parte da família para administrar o patrimônio senatorial. Sonegou informações ao fisco omitindo valiosos bens imobiliários.
Pedro de Montemor cansou de desfiar a sequência de mistérios gloriosos que envolvem esse homem público que, no dizer do senhor Lula, não é uma pessoa ordinária como é o beneficiário do Bolsa Família. Sou emotivo, também sou avô, e compreendo bem o Sr. Sarney ao contratar um netinho para função importante na administração dos destinos do país. Montemor é mais cáustico do que eu. Lembrou-me as definições, as expressões duras do atual Presidente quando era deputado federal, sobre o amigo de hoje: ladrão, corrupto, eram vocábulos ditos com provas e convicção.
− Hoje, disse Montemor, essas palavras foram substituídas por governabilidade. Sarney é a garantia da governabilidade. Essa palavra é rica em significados implícitos e explícitos. No discurso dos defensores do governo, ela quer dizer continuidade do poder nas mãos do senhor Lula, dos corrompidos do PT e das quadrilhas organizadas da aceleração da imoralidade política travestida de miraculosas estatísticas sobre o comportamento do deus PIB. Sarney é um homem nada comum, um senador extraordinário, com poderes sobrenaturais. Não pode abandonar a presidência do Senado da República pela simples razão de que o Brasil se tornaria ingovernável. Sem ele o senhor Lula não saberia a qual aeroporto do globo terrestre levar seu avião. Com Sarney na presidência do Senado, o senhor Lula governa o Brasil a distância, hospedado em Paris ou no Cazaquistão, na Líbia ou em Moçambique.
É bom conversar, de tempos em tempos, com Pedro de Montemor. Ele não se deixa enganar pela governabilidade abstrata.
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