quarta-feira, 8 de julho de 2009

GOVERNABILIDADE

Há dias não falava com meu amigo Pedro de Montemor. Nossa conversa foi dominada pelo affaire Sarney, um impoluto cidadão, nada comum que se apropriou do Maranhão e do Amapá. Salvou o país do comunismo, entrando nas fileiras patrióticas dos golpistas do glorioso exército nacional.
Governou o Brasil redemocratizado com a inesperada herança recebida de Tancredo Neves. Dirige atualmente e pela terceira vez o vetusto senado da República e desconhece o que se passa nos porões secretos. Elegeu seu filho à deputação federal e contratou parte da família para administrar o patrimônio senatorial. Sonegou informações ao fisco omitindo valiosos bens imobiliários.
Pedro de Montemor cansou de desfiar a sequência de mistérios gloriosos que envolvem esse homem público que, no dizer do senhor Lula, não é uma pessoa ordinária como é o beneficiário do Bolsa Família. Sou emotivo, também sou avô, e compreendo bem o Sr. Sarney ao contratar um netinho para função importante na administração dos destinos do país. Montemor é mais cáustico do que eu. Lembrou-me as definições, as expressões duras do atual Presidente quando era deputado federal, sobre o amigo de hoje: ladrão, corrupto, eram vocábulos ditos com provas e convicção.
− Hoje, disse Montemor, essas palavras foram substituídas por governabilidade. Sarney é a garantia da governabilidade. Essa palavra é rica em significados implícitos e explícitos. No discurso dos defensores do governo, ela quer dizer continuidade do poder nas mãos do senhor Lula, dos corrompidos do PT e das quadrilhas organizadas da aceleração da imoralidade política travestida de miraculosas estatísticas sobre o comportamento do deus PIB. Sarney é um homem nada comum, um senador extraordinário, com poderes sobrenaturais. Não pode abandonar a presidência do Senado da República pela simples razão de que o Brasil se tornaria ingovernável. Sem ele o senhor Lula não saberia a qual aeroporto do globo terrestre levar seu avião. Com Sarney na presidência do Senado, o senhor Lula governa o Brasil a distância, hospedado em Paris ou no Cazaquistão, na Líbia ou em Moçambique.
É bom conversar, de tempos em tempos, com Pedro de Montemor. Ele não se deixa enganar pela governabilidade abstrata.

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