segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

COPINHO DE CAFÉ

A guerra exterminadora começa com o primeiro tiro. A inundação de uma cidade desordenada, com a primeira gota de chuva. A devastação de uma floresta, com a primeira árvore que tomba.
Um senhor grisalho, de bermuda, caminha lentamente pelas calçadas de Brasília, olha para um lado e para outro. Está cercado de plantas e de flores. Inspira e expele a fumaça do cigarro, coça a barriga. Num gesto inconsciente, joga a guimba na grama.
Jovens, filhos de boas famílias, estudantes de bons colégios privados, sentam-se junto às barras de ginástica, na esquina da entrequadra 406 Sul. Fazem circular o crack e a maconha. Bebem cerveja misturada com rum ou vodca. Uma a uma, as garrafas são lançadas entre as árvores, à espera dos garis que passarão amanhã.
Um homem de gravata termina o almoço no Fogão de Lenha, serve-se de cafezinho. Bebe-o andando para o carro e, antes de entrar, descarta o copinho que rola pelo chão.
Pelas janelas de automóveis e ônibus saem latas, cascas de frutas, palitos de picolé, sacolas e garrafas plásticas, fraldas de bebê.
Pichadores deixam seus sábios e contestadores hieróglifos sobre paredes brancas de escolas, igrejas, quiosques e bancos.
De repente, todos se admiram, se espantam, se indignam da barbárie de habitantes de rua que acendem fogueira e destroem azulejos de Athos Bulcão colados na parede de uma igrejinha.

2 comentários:

Leiliane Rebouças disse...

Isso é uma absoluta falta de respeito e de educação.
Quanto à depredação da igrejinha... isso é um crime!
As pessoas dessa cidade parecem não ter a mínima noção do que significa Patrimônio Cultiral da Humanidade...

O OBSERVADOR disse...

Prezada dona do blog,
Você tem absoluta razão.
O desprezo pela pequenas coisas conduz à insensatez.
Eugênio