sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

BRASÍLIA SUSTENTÁVEL

Confesso que o termo sustentabilidade me deixa confuso. Na linguagem esotérica dos planejadores e programadores públicos e de organismos privados, um empreendimento para sustentar-se, isto é, durar indefinidamente, precisa ser culturalmente aceito, ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável.
Ora, Brasília não reúne, atualmente, todos esses advérbios. Por isso, concluo que nossa cidade-parque não é sustentável. Mas se a sustentabilidade de Brasília, como projeto urbanístico, depende da ocupação de todos os espaços livres para o uso imobiliário, entregue a empreiteiras com a complacência da administração pública, está no caminho certo.
Se a sustentabilidade do Distrito Federal consiste em semear condomínios ilegais para depois serem legalizados e bairros sobre mananciais para abrigar imigrantes de todo o país, ela está garantida.
Se a sustentabilidade depende da duplicação e triplicação de avenidas, da construção de viadutos, da abertura de retornos e instalação de dezenas de semáforos para a ilusória rapidez de milhares de carros, os planejadores acertaram em cheio.
Se a sustentabilidade está em arrasar o cerrado, devastar os mananciais e desertificar o solo, o alvo está sendo atingido.
Se a sustentabilidade precisa privilegiar o transporte individual e provocar engarrafamentos diários nas principais avenidas e encher o ar de dióxido de carbono, o sucesso está assegurado.
Se a sustentabilidade do Distrito Federal e de Brasília subordina-se ao desemprego de 200 mil trabalhadores para manter um exército de reposição temporal e baixos salários que garantem a desigualdade na mais bem-paga cidade, o êxito dos administradores está certificado.
Brasília, então, não é sustentável como cidade-parque e arte ao mesmo tempo. Tiraram-lhe as colunas do silêncio e a maior parte da natureza original. A Natureza reclamará, nos próximos anos, seu espaço, suas árvores, suas nascentes. As águas e os ventos assolarão os bairros mais pobres e não respeitarão os mais ricos. Nós tornamos Brasília insustentável.
Há quem ria e deboche das circunstâncias no presente e se refugia nos esconderijos da modernidade.
Amanhã, pediremos a solidariedade dos sensatos. Enquanto isso, a nau dos insensatos navega no mar fantasioso da sustentabilidade e do “controle do crescimento de Brasília”.

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