quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ESPAÇOS LIVRES

Lanço um olhar crítico sobre Brasília. Não sei se é a parte edificada que me fascina ou se as áreas ainda livres que me atraem, semidesertas, silenciosas.
Brasília sem seus monumentos, sem o traçado funcional que separa os edifícios para o desempenho do serviço público das residências e pontos de encontro, pouco se diferenciaria de Goiânia, Anápolis ou São Paulo.
Há um jogo de espaços livres que competem e disputam com as áreas ocupadas. A três mil metros da Esplanada dos Ministérios se estendem áreas preservadas de campos do cerrado, abertas, acolhedoras, cobertas de sol, batidas pelo vento, onde corujas e quero-queros armam seus ninhos no chão.
O brasiliense pode desfrutar de espaços amplos, ainda que pouco o faça, livre e solitariamente, deixando-se penetrar por um silêncio abundante, restaurador, locupletante.
Natureza e arte. Sonhos ameaçados pela mão do homem. Afrontados diariamente por um milhão de carros barulhentos e conspurcantes. Natureza e arte, ambas ignoradas por uma população amorfa que não foi alfabetizada para lê-las nem contemplar o silêncio de santidade que envolve a cidade. Podíamos escolher esse parque natural para viver e desfrutar a beleza nativa do cerrado. Preferimos a rua suja e barulhenta.
Ao invés dos espaços da liberdade, arquitetamos pequenas prisões cercadas de muros e grades.
Brasília é permanente convite à liberdade. Mas o homem livre com medo do homem livre vira refém de si próprio.

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