quinta-feira, 26 de março de 2020

CARTAS DA PRISÃO - RACHEL CARSON

CARTAS DA PRISÃO
Querida RACHEL CARSON,
Obrigado por tua carta Silent Spring. Escrevo-te à sombra de um jatobá. Informo-te que o novo Coronavírus19 se manifestou no esplendor da primavera silenciosa do Hemisfério Norte, ao lado das cerejeiras floridas e no meio da brotação nova das árvores. A primavera silenciosa virou um furacão pandemônico desconhecido. Estamos tão longe da natureza (cientistas e economistas) que pouco sabemos dela, como funciona, quando e por quê. Não damos atenção à interdependência dos seres vivos e acreditamos que a espécie humana seja um ente independente. Se o vírus vivo veio do morcego, do tatu ou da girafa, ele nasceu do mesmo tronco vital do homo sapiens. É nosso hóspede. Por que ele mata a espécie humana? O que ignoramos, por não conhecer a natureza, em seu profundo silêncio, é a inter-relação e interdependência de todos os seres vivos. Por isso, o tomamos como inimigo. Ainda estamos na fase embrionária dos remédios e das vacinas. A imprevisibilidade dos incalculáveis efeitos dessa constante e ininterrupta interdependência dos seres vivos deveria nos aproximar humildemente da primavera silenciosa da natureza para compreendê-la. Transmito aos que gozam de liberdade de pensar o que escreveste em 1962: ”Nessa hoje universal contaminação do ambiente, os produtos químicos são os parceiros sinistros e pouco reconhecidos da radiação na mudança da própria natureza do mundo – a natureza da própria vida.”
Foto: Orquídeas à sombra da pitangueira, Sítio das Neves,

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