CARTAS DA PRISÃO
Meus amigos,
Um silêncio de fim de
tarde pelos corredores. Todos os detentos mudos. Sentado num banco tosco está
Tito Lucrécio Caro. Traz no colo um pergaminho com a Carta de Epicuro a Meneceu
sobre a felicidade. Felicidade como objetivo de toda a ordenação do universo.
Epicuro morrera há 300 anos, mas o epicurismo rondava
a juventude romana. Dois mil anos depois, Lucrécio me acorda com seu poema epicurista
dirigido a Vênus, patrona de Roma: De
rerum natura. A natureza das coisas. Permanecendo apenas nas coisas da
natureza, em seus fenômenos imprevisíveis, em suas mensagens esotéricas, cai-se
no precipício das superstições. Ao contrario, a natureza das coisas é a
realidade simples. Há que descobri-la, compreendê-la, aceitá-la. A natureza é
viva, se move, se modifica, nos dá o prazer do movimento. As coisas da natureza,
a serenidade das árvores, o murmúrio das águas, a luz das estrelas nos dão o
prazer do repouso. Lucrécio me ensinou o caminho das árvores. As árvores me
levaram ao olho d’água.
Hoje é o Dia Mundial
(universal) da Água. Fui visitar o olho d’água. O buriti nasceu nas pálpebras
do olho d’água.
22.3.2020
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