quarta-feira, 25 de março de 2020

CARTAS DA PRISÃO - LUCRÉCIO


CARTAS DA PRISÃO

Meus amigos,
Um silêncio de fim de tarde pelos corredores. Todos os detentos mudos. Sentado num banco tosco está Tito Lucrécio Caro. Traz no colo um pergaminho com a Carta de Epicuro a Meneceu sobre a felicidade. Felicidade como objetivo de toda a ordenação do universo. Epicuro morrera há 300 anos, mas o epicurismo rondava a juventude romana. Dois mil anos depois, Lucrécio me acorda com seu poema epicurista dirigido a Vênus, patrona de Roma: De rerum natura. A natureza das coisas. Permanecendo apenas nas coisas da natureza, em seus fenômenos imprevisíveis, em suas mensagens esotéricas, cai-se no precipício das superstições. Ao contrario, a natureza das coisas é a realidade simples. Há que descobri-la, compreendê-la, aceitá-la. A natureza é viva, se move, se modifica, nos dá o prazer do movimento. As coisas da natureza, a serenidade das árvores, o murmúrio das águas, a luz das estrelas nos dão o prazer do repouso. Lucrécio me ensinou o caminho das árvores. As árvores me levaram ao olho d’água.
Hoje é o Dia Mundial (universal) da Água. Fui visitar o olho d’água. O buriti nasceu nas pálpebras do olho d’água.

22.3.2020

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