SOBRE AS QUADRAS 500 DO SUDOESTE
COMENTÁRIOS
ECOSSOCIOLÓGICOS (Eugênio Giovenardi)
POLÍTICA AMBIENTAL
Desde a
aprovação do início do empreendimento, nesses espaço, prevê-se a instalação de
22 prédios residenciais, seis comerciais e um institucional com a agregação de 4.000 pessoas e 3.000 carros.
Área física a ser urbanizada (141.654
m2/ 14,160 ha). Qual será o impacto sobre o Parque das Sucupiras.
Pergunta inicial: o pretendido equilíbrio
arquitetônico da cidade deve se opor ao equilíbrio ecológico e ambiental? A
Brasília Revisitada de Lucio Costa completa 30 anos. Em 1989, ele manifestou
seu consentimento em “urbanizar” aquela área que pertencia à Marinha. Teremos
que pensara da mesma forma 30 anos depois?
A biodiversidade local será preservada
com a ocupação de mais 4 mil pessoas e 3 mil carros? Um milhão de espécies da
flora e da fauna, dizem 145 cientistas, baseados em 15 mil fontes, estão
prestes a desaparecer do planeta. O homo
sapiens não resistira à extinção, apesar da tecnologia que deixará, até
2030, 2 bilhões de desempregados.
A compensação requerida pelos órgãos
ambientais produzirá e manterá o mesmo equilíbrio ambiental no mesmo espaço
urbanizado? A densidade espacial se justifica nessa área?
Repito o que venho insistindo há anos: um
novo olhar sobre a natureza é necessário e urgente.
Falo com experiência de 44 anos, mais de
metade de minha vida, acompanhando a regeneração de uma área degradada de 70
hectares. A área das previstas Quadras 500 é área degradada que requer humanização
sem fauna e flora?
É desconcertante que decisões de administradores
da coisa pública demonstrem não conhecer nem compreender o bioma Cerrado. Uma
coisa é administrar os bens da natureza, outra é administrar os bens do PIB.
Parecemos inimigos de áreas verdes
originais. Queremos maquiar o Cerrado com penduricalhos. Buganvílias,
florezinhas de canteiros, são lindas, mas não terão a função natural de recompor
o ambiente climático. Elas podem agregar beleza, mas não substituem o
funcionamento de infiltração da vegetação nativa..
Uma área de vegetação nativa que combina
gramíneas, arbustos e árvores pode deter até 70% da chuva, controla a umidade,
facilita a infiltração e a recarga de aquíferos canalizando as águas aos
córregos.
Uma área impermeabilizada não detém
aguaceiros. Ao contrário, se transforma em rio que inunda prédios, matam
pessoas e animais, canaliza ou desvia o curso dos ventos que derrubam árvores,
Processo de regeneração será extinto com
a ocupação do espaço urbano. A regeneração de uma área requer anos e décadas
soterrados por avenidas, estacionamentos, prédios e lixo.
POLÍTICA POPULACIONAL
Qual o escopo de um governo? Satisfazer
necessidades essenciais de toda a população. Moradia é uma delas.
A população cresce no DF em 40 mil novos
habitantes/ano.
O déficit habitacional estimado, por
diferentes instituições, está entre 117 mil a 125 mil. Os 22 prédios do
Sudoeste não reduzirão o déficit habitacional do DF. Ao contrário, vai-se
aumentar o número de apartamentos vazios. Uma afronta à população.
A que classe de renda pertencem os 2.500
novos moradores previstos para os 22 prédios do Sudoeste? As 830 famílias pressionarão
o aumento do consumo de água em 207.500 l/dia ou 207 m3.
A previsão de mais 3.000 carros em
circulação significa ocupação permanente e exclusiva de uma área de 18.000 m2.
Qual o local de trabalho dos futuros
ocupantes do Sudoeste?
O que falta nessas discussões é o ingrediente transparência. Trata-se de mercado imobiliário de oferta de moradia a quem tem dinheiro para comprar ou os futuros moradores já foram incluídos no rol dos que precisam casa a preços justos?
O que falta nessas discussões é o ingrediente transparência. Trata-se de mercado imobiliário de oferta de moradia a quem tem dinheiro para comprar ou os futuros moradores já foram incluídos no rol dos que precisam casa a preços justos?
Quantos desses apartamentos ficarão
vazios?
Por que não oferecer moradias decentes
onde os demandantes podem adquirir? Onde é possível construir para atender a
faixa salarial? Por que não Pôr do Sol, Samambaia, Sol Nascente, Sobradinho, Recanto
das Emas e outros lugares, transformando-os em parques saudáveis.
Então, quem é a demanda? A demanda deve
ter nome e identificação. A procura habitacional dos sem-teto está dirigida
para quais áreas? Onde estão eles? Quais são os espaços disponíveis para essa
demanda? Qual é o impacto sobre o bioma?
Qual é o acervo de vegetação nativa e
fauna residente? Ibram e Construtoras sabem? A Lei do Zoneamento
Econômico-Ecológico está sendo respeitada? Os 22 prédios do Sudoeste atendem a
essa demanda?
O número de trabalhadoras domésticas e
diaristas, no DF, se aproxima de 90 mil e mais de 40 mil vêm diariamente trabalhar
no Plano Piloto. Por que não reservar para elas o SUDOESTE? Elas sabem usar
transporte público. Certamente, a discriminação social impede de se pensar em
fatos óbvios.
O mercado imobiliário está distante de
quem realmente necessita.
Estamos administrando as necessidades da
população ou simplesmente prestamos adoração ao deus PIB?
POLÍTICA HABITACIONAL
A
taxa de crescimento populacional se reduzirá na camada rica da população. Na periferia
das cidades a taxa continuará maior. A média de crescimento da população é
usada para encobrir interesses econômicos.
Em
2030, segundo a Codeplan, o impacto da faixa etária jovem na população cairá de
24% a 17%, enquanto os idosos representarão 16% da população. Há que se pensar,
então, em abrigos, casas de repouso terminal para atender humanamente os
velhos. O Sudoeste poderá ser uma área estratégica alternativa para a população
que envelhece. Será mais fácil visitar pais, avós, parentes em locais adequados
a pessoas necessitadas de apoio.
Uma
das alternativas, além de outras já mencionadas, será deixar a área das quadras
500 do Sudoeste como área verde, pulmão urbano, um parque silencioso para
pensar.
Finalmente,
a conversão de áreas rurais em urbanas é uma afronta imperdoável contra o
Cerrado. Até hoje, o Pdot não controlou a ocupação de áreas de proteção
ambiental.
CAPTAÇÃO
DE ÁGUAS PLUVIAIS
I.
Áreas cobertas de vegetação integrada – árvores e gramíneas – de 10.000 m2,
frente a uma precipitação de 30 mm (30 litros por m2 ), podem captar até 70% desse volume ou 21 mm
(21 litros por m2 ), ou 210.000 litros, em 30 minutos (7.000
l/minuto).
Resultado:
A vegetação detém a água, controla o fluxo, infiltra.
II.
Uma área impermeabilizada de 10.000 m2 (5.000m x 2m), diante de
mesmo volume de 30mm (30 litros m2 ), recebe diretamente 300.000
litros em 30 minutos (10.000 l/minuto).
Resultado:
O asfalto não detém a água, arrasta lixo aos córregos, rios e lagos, arranca
árvores e sem esgotamento eficiente inunda cidades.
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