terça-feira, 7 de maio de 2019

QUADRAS 500


SOBRE AS QUADRAS 500 DO SUDOESTE

COMENTÁRIOS ECOSSOCIOLÓGICOS (Eugênio Giovenardi)

POLÍTICA AMBIENTAL

Desde a aprovação do início do empreendimento, nesses espaço, prevê-se a instalação de 22 prédios residenciais, seis comerciais e um institucional com a agregação de  4.000 pessoas e 3.000 carros.
Área física a ser urbanizada (141.654 m2/ 14,160 ha). Qual será o impacto sobre o Parque das Sucupiras.
Pergunta inicial: o pretendido equilíbrio arquitetônico da cidade deve se opor ao equilíbrio ecológico e ambiental? A Brasília Revisitada de Lucio Costa completa 30 anos. Em 1989, ele manifestou seu consentimento em “urbanizar” aquela área que pertencia à Marinha. Teremos que pensara da mesma forma 30 anos depois?
A biodiversidade local será preservada com a ocupação de mais 4 mil pessoas e 3 mil carros? Um milhão de espécies da flora e da fauna, dizem 145 cientistas, baseados em 15 mil fontes, estão prestes a desaparecer do planeta. O homo sapiens não resistira à extinção, apesar da tecnologia que deixará, até 2030, 2 bilhões de desempregados.
A compensação requerida pelos órgãos ambientais produzirá e manterá o mesmo equilíbrio ambiental no mesmo espaço urbanizado? A densidade espacial se justifica nessa área?
Repito o que venho insistindo há anos: um novo olhar sobre a natureza é necessário e urgente.
Falo com experiência de 44 anos, mais de metade de minha vida, acompanhando a regeneração de uma área degradada de 70 hectares. A área das previstas Quadras 500 é área degradada que requer humanização sem fauna e flora?
É desconcertante que decisões de administradores da coisa pública demonstrem não conhecer nem compreender o bioma Cerrado. Uma coisa é administrar os bens da natureza, outra é administrar os bens do PIB.
Parecemos inimigos de áreas verdes originais. Queremos maquiar o Cerrado com penduricalhos. Buganvílias, florezinhas de canteiros, são lindas, mas não terão a função natural de recompor o ambiente climático. Elas podem agregar beleza, mas não substituem o funcionamento de infiltração da vegetação nativa..
Uma área de vegetação nativa que combina gramíneas, arbustos e árvores pode deter até 70% da chuva, controla a umidade, facilita a infiltração e a recarga de aquíferos canalizando as águas aos córregos.
Uma área impermeabilizada não detém aguaceiros. Ao contrário, se transforma em rio que inunda prédios, matam pessoas e animais, canaliza ou desvia o curso dos ventos que derrubam árvores,
Processo de regeneração será extinto com a ocupação do espaço urbano. A regeneração de uma área requer anos e décadas soterrados por avenidas, estacionamentos, prédios e lixo.

 

POLÍTICA POPULACIONAL


Qual o escopo de um governo? Satisfazer necessidades essenciais de toda a população. Moradia é uma delas.
A população cresce no DF em 40 mil novos habitantes/ano.
O déficit habitacional estimado, por diferentes instituições, está entre 117 mil a 125 mil. Os 22 prédios do Sudoeste não reduzirão o déficit habitacional do DF. Ao contrário, vai-se aumentar o número de apartamentos vazios. Uma afronta à população.
A que classe de renda pertencem os 2.500 novos moradores previstos para os 22 prédios do Sudoeste? As 830 famílias pressionarão o aumento do consumo de água em 207.500 l/dia ou 207 m3.
A previsão de mais 3.000 carros em circulação significa ocupação permanente e exclusiva de uma área de 18.000 m2.
Qual o local de trabalho dos futuros ocupantes do Sudoeste? 
O que falta nessas discussões é o ingrediente transparência. Trata-se de mercado imobiliário de oferta de moradia a quem tem dinheiro para comprar ou os futuros moradores já foram incluídos no rol dos que precisam casa a preços justos?
Quantos desses apartamentos ficarão vazios?
Por que não oferecer moradias decentes onde os demandantes podem adquirir? Onde é possível construir para atender a faixa salarial? Por que não Pôr do Sol, Samambaia, Sol Nascente, Sobradinho, Recanto das Emas e outros lugares, transformando-os em parques saudáveis.
Então, quem é a demanda? A demanda deve ter nome e identificação. A procura habitacional dos sem-teto está dirigida para quais áreas? Onde estão eles? Quais são os espaços disponíveis para essa demanda? Qual é o impacto sobre o bioma?
Qual é o acervo de vegetação nativa e fauna residente? Ibram e Construtoras sabem? A Lei do Zoneamento Econômico-Ecológico está sendo respeitada? Os 22 prédios do Sudoeste atendem a essa demanda?
O número de trabalhadoras domésticas e diaristas, no DF, se aproxima de 90 mil e mais de 40 mil vêm diariamente trabalhar no Plano Piloto. Por que não reservar para elas o SUDOESTE? Elas sabem usar transporte público. Certamente, a discriminação social impede de se pensar em fatos óbvios.
O mercado imobiliário está distante de quem realmente necessita.
Estamos administrando as necessidades da população ou simplesmente prestamos adoração ao deus PIB?

POLÍTICA HABITACIONAL


A taxa de crescimento populacional se reduzirá na camada rica da população. Na periferia das cidades a taxa continuará maior. A média de crescimento da população é usada para encobrir interesses econômicos.
Em 2030, segundo a Codeplan, o impacto da faixa etária jovem na população cairá de 24% a 17%, enquanto os idosos representarão 16% da população. Há que se pensar, então, em abrigos, casas de repouso terminal para atender humanamente os velhos. O Sudoeste poderá ser uma área estratégica alternativa para a população que envelhece. Será mais fácil visitar pais, avós, parentes em locais adequados a pessoas necessitadas de apoio.
Uma das alternativas, além de outras já mencionadas, será deixar a área das quadras 500 do Sudoeste como área verde, pulmão urbano, um parque silencioso para pensar.
Finalmente, a conversão de áreas rurais em urbanas é uma afronta imperdoável contra o Cerrado. Até hoje, o Pdot não controlou a ocupação de áreas de proteção ambiental.

CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

I. Áreas cobertas de vegetação integrada – árvores e gramíneas – de 10.000 m2, frente a uma precipitação de 30 mm (30 litros por m2 ),  podem captar até 70% desse volume ou 21 mm (21 litros por m2 ), ou 210.000 litros, em 30 minutos (7.000 l/minuto).
Resultado: A vegetação detém a água, controla o fluxo, infiltra.

II. Uma área impermeabilizada de 10.000 m2 (5.000m x 2m), diante de mesmo volume de 30mm (30 litros m2 ), recebe diretamente 300.000 litros em 30 minutos (10.000 l/minuto).
Resultado: O asfalto não detém a água, arrasta lixo aos córregos, rios e lagos, arranca árvores e sem esgotamento eficiente inunda cidades.

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