domingo, 5 de novembro de 2017

CONSUMIR MENOS ÁGUA

Eugênio Giovenardi

Para Pedro Grigori
(Publicado no Correio Braziliense, 5.11.2017)


As chuvas, ainda que atrasadas e irregulares, chegaram. Elas não irão aos reservatórios nem de repente, nem todas. As primeiras chuvas escorrem sobre o chão ressequido, quente, impermeabilizado. Sobre telhados sujos, empoeirados de fuligem de queimadas e da fumaça dos carros. Arrastam lixo e terra para os córregos e lagos. Os reservatórios, no início das chuvas, recebem água suja que descem das enxurradas, dos córregos, das sarjetas. À medida que a chuva se espalha sobre uma área e o solo se umedece, com a colaboração das plantas a água se infiltra lentamente até alcançar os aquíferos. Quando a chuva é irregular ou pouco abundante, pode levar meses para se infiltrar no solo e abastecer as reservas subterrâneas que se esgotaram pelo contínuo uso durante o período seco. As áreas intensamente reflorestadas, especialmente em volta de nascentes, captam mais rapidamente e guardam mais água aumentando o curso dos rios. Por isso, é importante cuidar da vegetação. A relação humana com a água não começa na torneira nem no reservatório. Ela se inicia na proteção da vegetação nativa do olho d’água. A água não está sendo tratada como prioridade, nem pelo governo, nem pela sociedade. Nem basta ser prioridade, tem que parecer prioridade. Medidas urgentes: reduzir drasticamente o uso de água voluntariamente, ou por controles administrativos, ou por racionamento generalizado. Captação da água da chuva é uma atividade essencial que pode levar anos até os resultados serem considerados satisfatórios. Estudos, incentivos, técnicas adequadas podem criar um sistema de captação de água no âmbito da comunidade, do condomínio, do prédio, da quadra, da rua. Ampliar a área de proteção de nascentes, captar água da chuva não é para consumir mais e, sim, para tê-la suficiente ao consumo diário de todos os seres vivos. Nas circunstâncias atuais, em Brasília, é prudente preparar-se para a redução do consumo diário de água e para a probabilidade de racionamento severo nos próximos anos.

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