Em 1957, ano da decisão do
presidente Juscelino Kubitscheck de construir Brasília, a população local era
de 12.700 almas, cerrado espeço, águas cristalinas.
No ano da inauguração, a população
já era de 141.720. Quarenta anos depois, no ano 2000, ultrapassamos os 2
milhões. Hoje, a população do DF é de 3 milhões e as cidades vizinhas colaboram
com mais 1,5 milhão de pessoas.
Quantos de nós conhecíamos o
ecossistema que iria nos acolher? Que ideia tínhamos do bioma Cerrado? O que
fizemos nesses 56 anos?
Construímos uma cidade para
morar, ser felizes, trabalhar, gerar filhos para a pátria. Avançamos sobre um
ecossistema desconhecido. Ignoramos as 11 mil espécies vegetais, com 60 milhões
de anos de experiência em guardar água da chuva para sobreviver aos seis meses
de seca. Em seu lugar cultivamos soja e trigo irrigados acompanhados de agroquímicos e emissão de gases de efeito estufa com intensa
modificação no ecossistema e no espaço geográfico da região.
O Cerrado abriga 5 por cento
da biodiversidade do planeta. Ignoramos
as mais de 800 espécies de aves e 200 tipos de mamíferos. Muitos dos que restam
estão ameaçados por caçadores, por condutores de automóveis insensíveis, pela
urbanização desregrada, pelas técnicas ainda primitivas de produção de
alimentos sem preservação dos ecossistemas que nos acolheram.
Destruímos mais de 60 por cento da vegetação.
Arrasamos mananciais que alimentavam centenas de nascentes, dezenas de córregos
e ribeirões, hoje agonizantes, mal chegam em nossos esgotados reservatórios.
Há 70 mil anos, ao sair da
África, a espécie humana ocupou a Europa e Ásia e mudou, com sua presença, a
ecologia do planeta. Há 12 mil anos, com a descoberta da domesticação de grãos
e animais milhões de hectares de florestas desapareceram. A população mundial
se expandiu graças a abundância de grãos, porcos, cabras, vacas, galinhas. E
mais e mais terras foram ocupadas para alimentar bilhões de humanos.
Em 56 seis anos, construímos
uma cidade-metrópole, capital da república, Patrimônio Urbanístico da
Humanidade, ocupamos o interior do país com todos os sotaques regionais. Elegemos
governadores, garantimos a democracia e a ineficiência administrativa na gestão
dos elementos essenciais à convivência, como a água, a saúde e o transporte
coletivo.
Nesses 56 anos, olhamos para
nosso umbigo antropocêntrico e descuidamos do ambiente no qual viverão nossos
netos e bisnetos. Os 56 anos pouco nos ensinaram sobre o bioma Cerrado, nem nos
acordaram para a variedade de ecossistemas e, de repente, despertamos sem água.
56 anos depois, é hora de
acordar a sociedade, comprometer o governo distrital, seus funcionários, a câmara
legislativa e mobilizar todos os que vieram ocupar este singular espaço do
Planalto Central, feito de silêncio, amplitude, beleza e um imenso céu
estrelado.
14.11.2017
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