terça-feira, 14 de novembro de 2017

EM 56 ANOS


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Em 1957, ano da decisão do presidente Juscelino Kubitscheck de construir Brasília, a população local era de 12.700 almas, cerrado espeço, águas cristalinas.
No ano da inauguração, a população já era de 141.720. Quarenta anos depois, no ano 2000, ultrapassamos os 2 milhões. Hoje, a população do DF é de 3 milhões e as cidades vizinhas colaboram com mais 1,5 milhão de pessoas.
Quantos de nós conhecíamos o ecossistema que iria nos acolher? Que ideia tínhamos do bioma Cerrado? O que fizemos nesses 56 anos?
Construímos uma cidade para morar, ser felizes, trabalhar, gerar filhos para a pátria. Avançamos sobre um ecossistema desconhecido. Ignoramos as 11 mil espécies vegetais, com 60 milhões de anos de experiência em guardar água da chuva para sobreviver aos seis meses de seca. Em seu lugar cultivamos soja e trigo irrigados acompanhados de agroquímicos e emissão de gases de efeito estufa com intensa modificação no ecossistema e no espaço geográfico da região.
O Cerrado abriga 5 por cento da biodiversidade do planeta.  Ignoramos as mais de 800 espécies de aves e 200 tipos de mamíferos. Muitos dos que restam estão ameaçados por caçadores, por condutores de automóveis insensíveis, pela urbanização desregrada, pelas técnicas ainda primitivas de produção de alimentos sem preservação dos ecossistemas que nos acolheram.
 Destruímos mais de 60 por cento da vegetação. Arrasamos mananciais que alimentavam centenas de nascentes, dezenas de córregos e ribeirões, hoje agonizantes, mal chegam em nossos esgotados reservatórios.
Há 70 mil anos, ao sair da África, a espécie humana ocupou a Europa e Ásia e mudou, com sua presença, a ecologia do planeta. Há 12 mil anos, com a descoberta da domesticação de grãos e animais milhões de hectares de florestas desapareceram. A população mundial se expandiu graças a abundância de grãos, porcos, cabras, vacas, galinhas. E mais e mais terras foram ocupadas para alimentar bilhões de humanos.
Em 56 seis anos, construímos uma cidade-metrópole, capital da república, Patrimônio Urbanístico da Humanidade, ocupamos o interior do país com todos os sotaques regionais. Elegemos governadores, garantimos a democracia e a ineficiência administrativa na gestão dos elementos essenciais à convivência, como a água, a saúde e o transporte coletivo.
Nesses 56 anos, olhamos para nosso umbigo antropocêntrico e descuidamos do ambiente no qual viverão nossos netos e bisnetos. Os 56 anos pouco nos ensinaram sobre o bioma Cerrado, nem nos acordaram para a variedade de ecossistemas e, de repente, despertamos sem água.
56 anos depois, é hora de acordar a sociedade, comprometer o governo distrital, seus funcionários, a câmara legislativa e mobilizar todos os que vieram ocupar este singular espaço do Planalto Central, feito de silêncio, amplitude, beleza e um imenso céu estrelado.
14.11.2017


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