terça-feira, 15 de abril de 2014

CIDADE– PARQUE











A esmagadora maioria dos que vieram morar em Brasília o fez por mil razões compreensíveis, menos por querer habitar conscientemente numa cidade-parque.

Parque da cidade ou cidade-parque? Este último é um aposto que identifica  a cidade de Brasília, capital da República Federativa do Brasil. Brasília cidade-parque é Patrimônio Cultural da Humanidade.
Há parques famosos, uns mais conhecidos do que outros. Distinguem-se por si mesmos e têm vida e luz própria. Jardim de Luxemburgo, Paris, criado pela rainha Maria de Medici. O Hyde Park (Londres), o National Park (NY) estão entre os mais conhecidos. São parques, praças e ruas que compõem o conjunto das cidades em que se localizam como a Place Clichy (Paris) ou 5ª Avenida (NY).
Brasília é diferente e única. Brasília é o parque. O morador de Brasília vive no parque, embora tenha um parque suplementar; o Parque da Cidade. Diz-se que no Brasil tudo acaba em pizza. Pela nossa inconstância crônica, pelo jeitinho esperto, fácil e preguiçoso, a cidade-parque não passou dos limites do Plano Piloto.
O sonho de Lúcio Costa, ao projetar a cidade-parque sugerindo árvores majestosas consorciadas a outras menores, começou com o equívoco consciente de arrasar as espécies nativas e extinguir a biodiversidade vegetal já adaptada nesta região há milênios.
A escala bucólica ganhou duas faces: a periférica nativa, sujeita a fogo e a lixo e a arborizada em torno da escala residencial. Ao incluir no projeto urbanístico as escalas gregária e monumental, a cidade-parque ganhou a primeira poda conceitual. Os edifícios monumentais da Esplanada, longa, horizontal e gigantesca não deveriam ter sua majestade molestada pela trivial galhada de árvores plebeias.
Com a consistente e persistente imagem urbana de que Brasília é essencialmente o Plano Piloto, e pelo efeito pizza, os bairros ou cidades-satélites não foram abrangidos pelo conceito de cidade-parque.
Presumo que a esmagadora maioria dos que vieram morar em Brasília o fez por mil razões compreensíveis, menos por querer habitar conscientemente numa cidade-parque. Não é de estranhar que os habitantes de Brasília, seus administradores, todas as energias econômicas e políticas disponíveis tentem adaptar a cidade ao cidadão e não conciliar o cidadão ao conceito de cidade-parque. Um conflito quase insuperável. Assim, a grande maioria dos habitantes de Brasília trocou apenas de cidade. Trata-se a cidade-parque com métodos e comportamentos velhos e roceiros. Transferem-se para Brasília os vícios e as virtudes da cidade de origem. Para o moderno habitante de Brasília, árvore, facão, machado e motosserra têm tudo a ver.
Para mascarar a ignorância sobre o novo conceito de cidade-parque inventam-se termos: engessamento, puxadinhos, adensamento, PPCUP, LUOS.
Em conclusão, o conceito internacionalmente reconhecido de cidade-parque monumental deveria ter gerado, desde seu início, um órgão administrativo com autoridade e poder autônomos, como o Ateliê de Planification Urbaine de Paris (APUP). Esse órgão técnico garantiria a consistência e a permanência do equilíbrio entre urbanização e parque, e o intercâmbio saudável entre a vida humana e a vida vegetal.
O essencial urbanístico, em Brasília, que identifica o cidadão brasiliense e sua organização, é preservar a nova forma de convivência social e a beleza acolhedora da cidade dentro de um parque tão essencial quanto a cidade. Falta incluir todos os bairros de Brasília – as cidades-satélites – no conceito de cidade-parque.

11.4.2014

Um comentário:

Dani disse...

Onde surgiu o conceito de cidade-parque? Me parece um conceito burgues, das cidades que estava cada vez mais distantes das áreas não antropizadas. Tenho a impressão não ser apenas de Lucio Costa esta ideia...