sábado, 7 de julho de 2012

PROJETO OLHO D'ÁGUA



Aos interessados em conhecer o trabalho de preservação, captação e retenção de águas pluviais no Sítio das Neves, sob minha responsabilidade, ofereço um resumo do projeto.


PROJETO OLHO D’ÁGUA

INTRODUÇÃO

O projeto Olho d’Água começou em 1980, no Sitio das Neves (DF), com a finalidade de proteger uma área de 70 hectares do bioma Cerrado. Localiza-se à margem esquerda da Rodovia BR 060, direção Brasília/Goiânia, na altura do Km 26, no perímetro do Distrito Federal. Integra a bacia hidrográfica do Rio Santo Antônio do Descoberto e a micro bacia do Ribeirão das Lajes. A propriedade foi adquirida em 1973.
A área total do DF é de 582.200 hectares (5.822 km2). Segundo o plano de ocupação regional do DF, 80% (450.000 ha) seriam reservados às atividades rurais, reflorestamento, preservação de nascentes e cursos de água, e 20% (132.000 ha) à urbanização (serviços, habitação, educação, comércio, lazer, rodovias).
Atualmente, segundo dados oficiais, a urbanização e áreas agregadas absorvem 60% (348.000 ha), restando para a rural, 40% (234.200 ha), com tendência galopante a se reduzir nos próximos anos. Parques, APAs e APPs não foram considerados pelo IBGE como área rural, fato que distorce a informação sobre área urbana e rural.
Essa inversão gradativa do uso do solo desencadeou um processo de desertificação do Cerrado, com eliminação de nascentes, desmatamento indiscriminado, perturbação dos aquíferos subterrâneos por meio de poços tubulares, impermeabilização de grandes áreas, causando assoreamento do Lago Paranoá, de rios e córregos na imensa área adjacente ao Distrito Federal.

OBJETIVOS DO PROJETO

A proteção de nascentes mediante vegetação nativa garante retenção suficiente e fluxo permanente da água para a produção agrícola e a qualidade ambiental.
Sob o aspecto ecológico e ambiental, o Projeto Olho d’Água propõe-se, de forma continuada, a preservar área de 70 hectares de Cerrado (700 mil metros2), denominada Sítio das Neves, mantendo suas características originais de fauna e flora. Para garantir a continuidade do projeto, foi submetido ao IBRAM um pedido de Reserva Legal e de Área de Proteção Permanente de todo o Sítio.
A preservação ecológica e ambiental tem, portanto, caráter contínuo a fim de proteger a área de ocupações inadequadas e prejudiciais à natureza, seguindo orientações técnicas e científicas sobre a fenomenologia climática.
A preservação da área mencionada se estende por três décadas, com práticas de captação, contenção e detenção das águas pluviais, por meio de uma centena de barragens simples de pedra ou barragens-castor (galhos secos e terra de cupim), de tamanho adequado à declividade do terreno e ao volume, peso e velocidade da água. O reflorestamento vegetal contínuo e a recuperação da biodiversidade são resultados que podem ser comprovados.
As matas ciliares dos córregos perenes que nascem na propriedade, Córrego Capão Azul, Córrego da Onça e as das nascentes intermitentes se ampliaram geometricamente. As matas de galeria dos vários cursos de água se ligaram umas às outras. As águas pluviais contidas e detidas nas barragens, sombreadas pelas matas de galeria, permanecem durante todo o período seco. A umidade mantida nessas áreas modifica lentamente o ambiente e fortalece as nascentes perenes e estimula as intermitentes.
Conseguiu-se, ao longo de mais de três décadas, aumento dos índices de umidade com o armazenamento de água nos quatro aquíferos:
− aquífero radicular: volume de água contida nas raízes das árvores, plantas e gramíneas, graças ao sombreamento da vegetação.
− aquífero vegetal: volume de água contida nos troncos, galhos e folhas das árvores, em consequência da captação de umidade do solo pelas raízes.
− aquífero superficial: volume de água que brota das nascentes e forma córregos e rios, alimentado pelas barragens de contenção das águas da chuva.
− aquífero subterrâneo: volume de água estocada entre as camadas de rocha, preservado pela recarga das precipitações que se infiltram no solo e percolam até os mares interiores, graças ao repouso das águas nos lagos temporários resultantes das barragens.

CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

A captação é feita por meio de barragens de pedra e barragens castor. As barragens de pedra, em arco romano deitado. Nas áreas onde as pedras são escassas, usam-se, em camadas superpostas, céspedes, terra de cupim vivo, madeiras secas, céspedes e novamente terra de cupim. Em ambos tipos de barragens as águas filtram entre as pedras e madeiras e parte delas ficam empoçadas permitindo a infiltração e recarga dos aquíferos.
As barragens podem ter finalidades distintas. Umas são para correção de erosões centenárias, outras, de prevenção da erosão. Todas, porém, se destinam a captar, conter e deter as águas da chuva para prover de maior umidade o solo, fortalecer as nascentes, garantir a recarga dos aquíferos e manter a vegetação nativa do cerrado.
No âmbito da propriedade, a captação e detenção das águas da chuva são efetivadas por uma rede sistêmica de pequenas barragens, eficientes e de baixo custo, que permitem a comunicação subterrânea das águas. Nas grotas e canais de escoamento, detém-se mais da metade (400 milhões de litros) do volume de água das chuvas do período, estimado em mais de 800 milhões de litros, considerando um índice médio de precipitação de 1.250 mm/ano. É um processo fácil de multiplicar em todas as propriedades rurais.
A captação de água no Sítio das Neves atende a todas as necessidades de consumo humano, de criação de pequenos animais e produção de legumes e frutas.

OUTORGA DE USO DA ÁGUA

O volume diário de uso da água no Sítio das Neves foi determinado por um ato administrativo de outorga pela ADASA. Segundo cálculos técnicos, a vazão diária, no período de estiagem, da nascente de captação para uso diário é de, aproximadamente, 30 mil litros de água. O consumo autorizado monta a 2.000 litros diários. A captação de água é feita por gravidade num percurso de 750 metros.
Graças aos resultados obtidos até o momento, a ADASA concedeu ao Sítio das Neves, em ato público, o PRÊMIO GUARDIÃO DA ÁGUA, no Dia Mundial da Água, em 22 de março de 2010. Está em curso, perante o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), como acima mencionado, solicitação de Reserva Legal e determinação de Áreas de Preservação Permanente (APP).
Sob o aspecto educativo, por meio de parcerias com ong’s ambientalistas, palestras em colégios e universidades, publicações na mídia e visitas guiadas, propõe-se despertar nas crianças e pesquisadores o apreço pela natureza e a possível reprodução do processo de preservação em curso por outros proprietários de terra, agricultores ou não.
O projeto Olho d’água está aberto a pesquisadores de universidades e institutos ou centros de pesquisa ambiental, alunos e estudantes, funcionários e técnicos de secretarias de agricultura com funções de extensão e educação rural.

EXTENSÃO E MORFOLOGIA

A área do Sítio das Neves tem uma extensão de 70 hectares, com um desnível de oitenta metros entre o ponto mais alto, rodovia BR 060, e o mais baixo, desembocadura dos córregos da Onça e Capão Azul no Ribeirão das Lajes.
O acesso à sede da propriedade é feito por estrada de chão de 1.100 metros de extensão, a contar da porteira de entrada. A conservação da via é feita manualmente.
As terras da propriedade são banhadas por três cursos permanentes de água. Ao sul, pelo Ribeirão das Lajes, integrado à bacia do Rio Santo Antônio do Descoberto; a Nordeste, pelo Córrego Capão Azul e, a Oeste, pelo Córrego da Onça.
Os córregos que nascem nas terras do Sítio das Neves têm uma extensão de aproximadamente 1.200 metros e desembocam no Ribeirão das Lajes.

OBRAS DE PRESERVAÇÃO

Todas as obras e atividades de preservação ambiental se realizam de forma manual, em caráter contínuo, segundo as estações do ano, utilizando material local. Exceção feita da classificação de plantas e aves, executada por profissionais em colaboração com o Ibram, UnB e ONGs.
Até o presente momento, os custos da preservação ambiental, incluindo a construção de barragens, de aceiros e proteção das nascentes, do transporte de material, do combustível e placas de avisos são sufragados pelo proprietário.
As principais despesas se referem à construção e manutenção de barragens, classificação de plantas, aves e animais selvagens, comunicação e combustível.

CARACTERÍSTICAS GERAIS do SÍTIO DAS NEVES

ÁGUA
        A precipitação anual (180 dias) é de 1250 mm ou litros/m2//ano,  média diária de 7 l/m2.. Multiplicada por 700.000 m2 obtém-se um total de 4.900.000 l/dia, o que perfaz um volume de 875 milhões de litros (875 mil m3) no período chuvoso sobre o Sítio.

FLUXOS DE ÁGUA:
        Ribeirão das Lajes (Sul), Córrego Capão Azul (Nordeste), Córrego da Onça (Oeste).

NASCENTES
        A área do Sítio possui três (03) nascentes perenes: ALFA, (divisa Norte), ÁGUA AZUL (brejo interno), PÔR DO SOL (divisa Oeste).
        Seis (06) intermitentes.
        Grotas ou linhas de drenagem, esgotamento, nas quais se fazem coleta, retenção e detenção de águas da chuva.
        A umidade global e permanente do solo, no Sítio das Neves, somando a água retida nas folhas, nos troncos e nas raízes, estimando um volume de 5 litros por planta, monta a 35 milhões de litros (35 mil metros cúbicos).

CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

A precipitação anual média (1.250 ml X 700.000 m2) de 875 milhões de litros (875 mil m3) é captada e retida no Sítio na seguinte proporção:
25% são retidos na vegetação (218,7 milhões de litros)
20% são retidos nas barragens ao longo de todos os canais de esgotamento (175,0 milhões de litros)
20% se infiltram no solo para recarga direta dos aquíferos subterrâneos (175,0 milhões de litros).
35% escoam diretamente para os córregos que desembocam no Ribeirão das Lajes (306.2 milhões de litros).

ESPÉCIES:

Estimam-se ao redor de 160 espécies lenhosas, entre outras: sucupira, aroeira, jatobá, angico, guapeva, embiruçu, pau santo, ipê amarelo, copaíba, jacarandá.
        Frutíferas: cajuína, mangaba, araçá, mama cadela, marmelo do cerrado, mirtilo ou arando (mirtáceas), murta ou mirto (mirtáceas), cajá, jatobá, bacupari, pequi, goiaba, manga, banana, mamão, jamelão, pitanga, jabuticaba, maracujá, guapeva, ingazeira, marcela.
        200 espécies de gramíneas (Fabaceae).
        A área é coberta por aproximadamente sete milhões de plantas de tamanhos variados. O cálculo foi estimado com uma população vegetal de 10 plantas por metro quadrado. O sítio tem extensão de 700 mil metros quadrados.
        A variedade de plantas está sendo estimada à base de uma espécie por metro quadrado, cuja soma daria 70 mil variedades.

OXIGÊNIO, combustível dos seres vivos.

        Uma árvore absorve 2kg de gás carbônico por hora e produz, no mesmo tempo, 2kg de oxigênio. As 70 mil variedades, em princípio, produziriam, em 10 horas de sol, 1,4 milhão de kg de oxigênio por dia e absorveriam igual quantidade de gás carbônico.
Um hectare de floresta pode reter, num dia, 32 toneladas de poeira tóxica produzida por automóveis e construtoras. Os 70 hectares do Sítio podem reter e eliminar 2.240 t de CO2 e devolver outras tantas de oxigênio limpo.

REFLORESTAMENTO
       
Plantio de espécies adaptáveis: pata de vaca arbórea, acácia, oiti, barriguda, sapucaia, olmo, araucária, mangueira, abacateiro, goiabeira, pitangueira, jabuticabeira, jaqueira, limoeiro, mexerica-poncã, amoreira, ipê-roxo.
        Reprodução nativa e espontânea de todas as espécies locais.

SERPENTES:

Caninana, boipeba (jararacuçu-do-brejo), jararacuçu, jararaca, jararaquinha, coral-verdadeira, falsa-coral, cascavel, cobra-d’água, cobra-cipó, cobra-amarela, cobra-do-cerrado, muçurana.


PÁSSAROS e AVES:
       
Jacu, pomba do bando, juriti, rolinha, perdiz, perdigão, jaó, garça, tucano, alma-penada, saracura, sabiá, periquito, João-de-barro, bem-te-vi, pica-paus (vários nomes), saíra, canário, pintassilgo, trinca-ferro, anu-preto, gralha, beija-flor, corruíra e dezenas de outros já catalogados.



INSETOS
       
Baratas, aranhas, grilos, besouros, borboleta azul, borboleta marrom, borboleta amarela, joaninha, vira-bosta, formigas, cupim, raros escorpiões, entre outros.

BICHOS
       
Gatos do mato (três espécies), cachorro-do-mato, mão-pelada, tamanduá, ariranha, tatu, lagarto, lagartixa, porco-espinho, sagui, macaco-prego, sapo, rã.

Brasília, abril, 2011


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Eugênio Giovenardi
RG: 139.828 SSP/DF
CPF: 090.928.381-87
Fone: 61 9981 2807

Um comentário:

Anônimo disse...

conheço esse sitio e sao muito interessantes todas as especies, tanto da fauna como da flora. Faz muito tempo que nao ando por lá, morei durante algum tempo nesse sitio com meus pais... muitas saudades. abraços!
Natielly