terça-feira, 19 de junho de 2012

BIOMA OU TECNOMA



(Tecnoma: vocábulo não dicionarizado, inventado por mim e que se contrapõe a bioma.)

            
De todos os seres vivos do planeta, o único que discute a sustentabilidade de seu comportamento de explorador da natureza é o ser humano como se não fosse parte do mesmo universo e não trouxesse nos genes o DNA da ameba ou dos protozoários. Se me permitem, é preciso desconstruir essa lógica reveladora da desorientação filosófica da inteligência. Há algo de errado no pensamento humano para propor discussões sobre o irracional. A forma pela qual tratamos a natureza como se ela fosse um bem a ser usurpado, consumido e destruído indica o desvario do bom senso.
Proponho, aos que esbanjam retórica sobre a sustentabilidade do consumo obsessivo, do crescimento com desenvolvimento ou sobre o desenvolvimento sustentável, algumas questões básicas sobre o tema da sustentabilidade dos biomas.
1.   Qual é a capacidade de cada bioma, do qual tiramos a alimentação e ao qual nos adaptamos, para se recompor, refazer e se reconstituir com o fim de reoferecer os meios de sobrevivência a todos os seres vivos que o habitam?
2.   Que conhecimentos se têm da oferta e da composição das potencialidades dos biomas para alimentar e garantir a sobrevivência de todos os seres vivos neles existentes?
3.   Na disputa pela sobrevivência dos seres vivos que o bioma comporta, quais são os limites das diferentes populações que obtêm dele o sustento e outras condições de conforto para sua reprodução?
4.   Todos os seres vivos, no processo de interdependência, eliminam outros seres vivos e os absorvem. Quantos desses seres vivos do bioma podem ser eliminados, e em que tempo, para assegurar a capacidade natural de se recompor e se sustentar? Trata-se da sustentabilidade dos biomas para a vida e a reprodução das espécies vivas e não do planeta sujeito às leis cósmicas.
5.   As relações humanas dependem da forma como eliminamos parte dos seres vivos do bioma, no tempo, e do número de seres vivos que ele pode sustentar. Os tempos de eliminação de seres vivos não são simetricamente iguais aos da recomposição do bioma natural. O homem elimina em dias o que o bioma demorou bilhões de anos para construir.
6.   Água, vegetação, fertilidade do solo, produção de proteínas e vitaminas ou sua coleta e apreensão representam os elementos essenciais para determinar os limites de população humana e da saúde física do bioma.
7.   Enfraquecido, exaurido, destruído o bioma, resta a alternativa tecnológica frequentemente mencionada. No lugar do adubo orgânico, o elemento químico. As águas subterrâneas, reservas da natureza, substituem as que vinham dos mananciais, dos córregos, rios e lagos. Substitui-se o bioma pelo tecnoma. O natural pelo artificial. O sabor da natureza pelo gosto químico e pelo agrotóxico. Chega-se, com o apoio de grandes laboratórios, de poderosas empresas comerciais, de medidas financeiras e protecionistas de governos desenvolvidos e emergentes, à eficiência e à eficácia do tecnoma salvador da humanidade solitária no meio de um deserto urbano. A sustentabilidade do tecnoma estará assegurada pelo consumo obsessivo de parte da população mundial. A outra parte continuará sem água, sem florestas mendigando favores aos que podem esbanjar.
8.   A Conferência Rio+20 está eivada de discussões, diálogos e propostas referentes à ética ambiental, à moral, à política da inclusão social, à ideologia do consumo e do anticonsumo, à religião da natureza e da imprevisibilidade do universo. Para estabelecer normas de comportamento humano para com a natureza seria suficiente, por exemplo, comparar o impacto da indústria automobilística sobre os biomas com as técnicas simples de coleta e processamento de centenas de toneladas da castanha-do-pará, na Amazônia, e o reflexo e as consequências de ambos sobre a saúde de todos os seres vivos.

2012-06-17

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