Passei os últimos quinze dias caminhando pelas ruas de Paris, visitando livrarias, lendo jornais e revistas, vendo alguns dos 400 filmes que se exibem diariamente e acompanhando os debates sobre educação e as vicissitudes de Dominique Strauss Kan e a camareira guineense.
Setembro é o mês da volta às aulas (rentrée scolaire). Alguns números me chamaram a atenção. Do primário ao liceu, 12 milhões de alunos recomeçam o ano letivo, dos quais 200 mil são portadores de deficiências físicas. As escolas públicas, mantidas pelo Estado e prefeituras, abrigam 80% dos estudantes. As escolas privadas, a maioria pertencente a congregações religiosas, acolhem 20% dos alunos. O número de professores é de 860 mil. Neste ano foram suspensos 16 mil postos de professores. Nove em cada dez, cortados nas escolas públicas em razão da crise financeira da zona do Euro, em nome da austeridade e do rigor na administração dos serviços culturais.
Nos últimos quatro anos foram extintas 70 mil vagas de professores. Em época de eleições, como é o caso na França, os candidatos prometem reestabelecer todos os postos perdidos. Promessas são promessas. Em geral, permanecem promessas. À primeira vista, poder-se-ia concluir que o controle do crescimento populacional oferece menos crianças para as escolas primárias nas quais frequentam 6 milhões de alunos. Mas as informações sobre populações revelam que há um ligeiro aumento no índice de expansão demográfica.
Pouco mais da metade da população da França é biligue, vem da África e dos países do Oriente. Os serviços de aeroporto, alfândega, controle de passaportes, balconistas, limpeza pública, recepcionistas de museus e outras atividades específicas que não requerem preparação acadêmica são prestados por essa população de emigrantes ou descendentes. Onde encontrar Franceses? Nos bares e restaurantes franceses, nas empresas da elite financeira, comercial e industrial.
Mas como os alunos, cada vez mais, não olham para o professor e, sim, ao Ipad ou Notebook à sua frente, o mestre de antigamente está sendo substituído pela alta tecnologia da comunicação, da informação imparcial, rigorosa e fria.
A proposta dos especialistas é a que denominam educação personalizada. As informações gerais e os conhecimentos são transmitidos pela máquina. As dificuldades individuais, pessoais, psíquicas são resolvidas com a participação pontual do professor. O professor conselheiro. Reciclar o professor, eis a questão. A nova cultura francesa se forma com ingredientes que resistem às tradições acadêmicas dos tempos de Descartes e agrega elementos históricos de outras civilizações mais antigas que a europeia.
A Europa que pretendeu, em séculos passados, “clarear” a África e a Ásia, neste século, enfrenta um progressivo “escurecimento”.
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