terça-feira, 2 de agosto de 2011

FELICIDADE

Ser feliz. A busca incessante da felicidade empurra todas as pessoas a capturá-la em qualquer lugar, a qualquer preço. Muitos esperam que ela chegue num embrulho de presente. De tempos em tempos, aparece alguém com receitas infalíveis para lembrar que ela existe e é possível alcançá-la.

Com o passar dos anos, no meio da agitação em que as condições da sociedade me envolveram: ir à escola, aprender um ofício, ganhar dinheiro, conseguir casa, comprar carro, prever os dias da velhice, percebi que ser feliz era o que importava. E cada um dos itens citados no parágrafo anterior trouxe-me dissabores e o “ser feliz” aguardava sua vez.

Não me lembro em que momento, ano ou lugar do mundo, um sinal interior da consciência me acordou e parei subitamente. Recordo apenas que era numa rua estreita, na parte velha e histórica de uma cidade. “Poxa”, disse-me pensando, “ser feliz é estar numa rua estreita, na parte antiga de uma cidade”!

Essa constatação de felicidade me acompanhou por bastante tempo e se consolidava a cada nova rua apertada em que eu entrava. Compus, então, para meu alívio pessoal, uma curta receita que me serve até hoje e parece-me a cada dia mais verdadeira.

Primeiro, estar vivo. Atenção! Parece óbvio. Não é. Quero dizer, conscientemente vivo. Sentir-se vivo por dentro. Aceitar-se, amar-se, respeitar-se como ser vivo. Esta é a primeira condição que me dá o volume e a intensidade de ser feliz. Abro uma observação. A tendência é pôr a felicidade na garupa de algum objeto ou apoiar-se nele, projetando a pessoa na coisa, na casa, no carro, na profissão. É o dilema do ser e do ter.

Segundo, olhar com simpatia e querer bem a todos os seres vivos, pessoas, árvores, flores, pássaros, água, pedras, ventos, tempestades, raios, bichos e sentir-se integrado com eles no universo galáctico e no pluriverso incomensurável.

Terceiro, tudo o mais que me rodeia incorporo como figurante da condição humana, assim como eu o sou para o drama alheio. Sem esses figurantes meu personagem não seria aplaudido por mim ao fecharem-se as cortinas.

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