sexta-feira, 28 de maio de 2010

PEDOFILIA E CELIBATO

Uma onda de denúncias atormenta a Igreja Católica na Alemanha, Irlanda, França, nos Estados Unidos, no Brasil. Padres, freiras, bispos, cardeais, assessores do papa são acusados de pedofilia e abuso sexual de menores e jovens em suas paróquias e espaços onde se realizam atos comunitários em nome da religião. Antigamente dizia-se prostituição infantil.
Casualmente, caiu-me em mãos o folheto Rumos, abril/2010, editado pelo Movimento Padres Casados, inteiramente dedicado a examinar e exorcizar o celibato imposto pela Igreja aos sacerdotes.
O celibato eclesiástico, bombardeado há dezenas de anos por padres casados, leigos e algumas autoridades hierárquicas, com a divulgação do termo pedofilia, recebeu um reforço na luta para sua abolição. O homossexualismo entra, às vezes, como apêndice complementar nessa discussão moral entre católicos.
A pedofilia não é fato novo na Igreja Católica nem nas sociedades civis antigas e modernas. A pedofilia é prática oficial em algumas culturas. Meninas de 12 ou 13 anos são entregues por seus pais a uma personalidade do clã como esposa a ser estuprada contra sua vontade e tornar-se, até que a morte os separe, uma escrava com todo o conforto material. Nos incipientes reinos da Espanha e do Império Austro-húngaro, a prática de arrumar casamentos para combinar fortunas envolvia crianças. Os reflexos desses comportamentos se expandiram sobre a moral e os costumes.
Na cultura católica brasileira, de Sul a Norte, de Leste a Oeste, há inúmeras histórias de pedofilia cujos atores são tios casados, coronéis da casa grande, políticos de estirpe nobre e prole abundante, monsenhores de paróquias famosas. Jornais têm divulgado iniciativas de mães que oferecem suas filhas e filhos nas ruas de algumas capitais do país a turistas, nacionais e estrangeiros, e altos funcionários casados de empresas privadas e públicas.
Nem o celibato nem o casamento compulsório fazem bem à saúde do indivíduo ou da coletividade. Apelar para a prática da pedofilia de alguns poucos sacerdotes para abolir o celibato canônico não parece um argumento inteligente e adequado a convencer autoridades hierárquicas tradicionais de uma instituição religiosa que se diz de origem divina. O fato de ela abranger distintas culturas espalhadas pelo mundo e a ecumênica evolução da interpretação dos diferentes caminhos de expressão religiosa é que deveriam concorrer para liberar a opção pelo casamento.
Fixar-se apenas no risco do escorregamento moral da pessoa para legislar ou abolir leis chega-se ao ridículo de ler considerações apresentadas por luminares da teologia católica. Diz Leonardo Boff que “Deus pode estar tentando dizer [por meio da pedofilia] que é hora de a Igreja abolir o celibato imposto por lei”. Será esse Deus tão cruel a ponto de causar inesquecíveis e insuperáveis traumas a seus filhos bem amados só para que teólogos bem alimentados do Vaticano tenham pena de sacerdotes abstêmios de sexo? Ou a palavra de ordem do prestigiado teólogo Hans Küng: “Para lutar contra a pedofilia, a abolição do celibato dos padres”.
Quem garante que os padres e freiras pedófilos não o seriam se fossem casados? Os milhares de padres que contraíram matrimônio o fizeram para não se tornar pedófilos? Ou a pedofilia é mais um argumento para justificar sua nova opção humanamente correta? Os padres casados já aboliram ipso facto o celibato. Talvez sua questão de consciência não seja mais a lei do celibato e, sim, a de pertencer a uma instituição que, em nome de Deus, lhes tira a tranquilidade buscada no convívio da pessoa amada, mulher ou homem.

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