quarta-feira, 23 de julho de 2008

A NUVEM

Um dia na vida do país!
Impossível descrever e enumerar todos os fatos, as circunstâncias e as surpresas que se tecem, num dia, ao redor das pessoas, com tramas e pontos distintos.
Mais difícil ainda é perceber como os cidadãos são atingidos por esse variado cardápio de situações.
Um banqueiro é preso por crime financeiro. Daniel Valente Dantas. Outro, conhecido como Cacciola, pelo mesmo motivo, é extraditado do Principado de Mônaco ao Brasil. O primeiro com algemas nos punhos, o outro, sem elas.
O Ministro da Justiça, ao qual está subordinada a polícia especializada, contradiz e critica ambiguamente o comportamento repressivo de seus comandados que nada mais fizeram do que cumprir leis e regulamentos. Ministro e policiais se enfrentam diante de câmeras de TV. Ambos se digladiam com o ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Um prende, outro solta. A justiça parece mesmo cega. Todos os departamentos implicados na prisão dos criminosos justificam suas funções e competências. O Ministro esclarece que se tratou de um momento de instabilidade, mas a controvérsia está superada.
Um crime financeiro não acontece no vácuo. Precisa de intensa colaboração institucional e pessoal, assistência permanente, conivência e cumplicidade silenciosas, assessoria de conselheiros da rapinagem, advogados criminalistas, políticos, ministros de Estado, chefes de gabinete, testas-de-ferro e a benevolência do poder maior, isto é, do Presidente da República, através de seus prepostos que o isentarão de qualquer responsabilidade.
A trama do roubo envolve profissionais de vários setores e conta com a participação de amigos, de interessados, de intermediários-laranjas, de patos que, no fim, pagarão com castigos suaves.
As mentiras, os desmentidos, as remoções e demissões, as provas e contraprovas, o cinismo, as reuniões secretas de cúpula, os discursos na Câmara e no Senado interpõem-se no caminhar do processo incriminatório. As notícias parciais e peneiradas da imprensa, a galhofa dos donos do poder, a intervenção inoportuna do Presidente da República, as trapalhadas assassinas da polícia, que abate crianças por equívoco, os velórios e os enterros cotidianos formam uma nuvem espessa sobre a paisagem monótona. A nuvem esconde tudo.
Quando a nuvem se desfaz, a beleza das flores, o verde das plantas, o azul do céu, o sol amarelo recompõem o bucólico cenário original para os olhos apatetados do povo.
Tudo ficou atrás da nuvem.

22/07/2008

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