segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

NAZISMO FITOGÊNICO

Não bastasse ao cidadão brasilense ter que se defender dos condutores sem paciência, para atravessar a rua na faixa de pedestres, está agora atormentado por um batalhão de motosserras terceirizadas. Lá se vão, sob o olhar atônito do contribuinte, as sombras de antigas árvores.
Um besouro boliviano se instalou nas mongubas. Qual foi a solução? Abater árvores frondosas. A solução mais simples é tirar o sofá da sala para evitar o namoro dos filhos.
Sem intenção ofender nem diminuir a competência e o zelo de provectos funcionários públicos, penso que já é tempo de, se não substituir comandos, pelo menos mudar a mentalidade dos que decidem. Vive-se uma ditadura administrativa.
É urgente informar aos que foram designados para representar os cidadãos comuns, na administração de departamentos que lidam com a natureza, que o mundo está mudando.
Os alarmes disparados pelo Correio Braziliense dão a entender que há um perigoso conceito nazista fitogênico a contaminar os processos de decisão da Zoobotânica. Um tal senhor Darlan Alcântara, autoridade de parques e jardins, mandou retirar os cambuís de um estacionamento por não pertencerem ao bioma do Cerrado. E quantos de nós fazem parte do bioma do Cerrado, com exceção do senhor Darlan? E o quase um milhão de automóveis, impondo rodovias, avenidas ampliadas e duplicadas, estacionamentos, viadutos sobre nascentes, brotou nas grotas de Vicente Pires? Os invasores de dezenas de APAS, são deste bioma? A soja que arrasou milhares de hectares do DF é, por ventura, deste bioma? O cambuí não é culpado do aquecimento de Brasília.
É preciso dar outros brinquedos de fim de semana aos que dirigem nossos departamentos de proteção ao meio ambiente, além dessa maquininha chamada vaidade do poder.
Limpeza genética do Cerrado é insensatez. A grandeza do Cerrado está em sua capacidade de receber e adaptar variedades incontáveis de espécies e não de eliminá-las. É este o conceito de bioma.
Expresso minha opinião e me associo à Associação dos Amigos e Freqüentadores do Parque Nacional de Brasília, aos Antônios, às Sílvias, às Marias, com a paciente experiência de proteger, defender e estimular, por mais de 35 anos, uma área de Cerrado de 100 hectares . Convivo, ali, com dezenas de milhares de plantas, numa combinação harmoniosa de variedades, por certo ainda não conhecidas dos que administram nossos departamentos relacionados com o espaço que ocupamos.
Todos nós que não pertencemos ao bioma do Cerrado, fomos recebidos no planalto aberto. O Cerrado nos ajudou a adaptar-nos às suas regras. Não seria o caso, à imitação dos cortadores de árvores, que se erradicassem pelo menos dois terços dos habitantes do DF e arredores e fossem reenviados a seu bioma de origem?
O Cerrado não precisa de nós. Nós é que precisamos dele. Deixem em paz as deliciosas pitangueiras, goiabeiras, mangueiras, as perfumadas magnólias e os imponentes ficus.

Eugênio Giovenardi, autor, entre outros, do livro A Saga de um Sítio – convivendo com o Cerrado, LGE, 2007.
eugeniogiovenardi@yahoo.com.br
61 34437363
61 9981 2807

Um comentário:

Ronaldo Weigand Jr. disse...

Prezado Engênio,

Muito boas as suas observações! Também escrevi sobre o tema http://nave-terra.blogspot.com/2008/10/salvem-as-mungubas-gdf-corta-vores-no.html . É um absurdo o que estão fazendo com nossas árvores!