quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

DEPOIS DO IMPÉRIO

Existe o império americano?
Sua presença inquietante no mundo globalizado e seu ativismo bélico comandado por Bush é sinal de força ou de fraqueza?
Suas últimas incursões em países distantes e débeis demonstra que seus exércitos são capazes de conquistar, mas não de conservar os territórios. Ganham a guerra formal e destroem a autonomia do país invadido. Ao contrário do universalismo generoso do antigo império benfeitor, que permitia a fusão das culturas, o pretenso império americano demonstra desprezo pelo desigual e diverso. Desconhece e arrasa costumes e cultura do povo submetido, impondo-lhe modelos estranhos.
Seria este um dos sinais inequívocos do fim de um império? Estratégia militar para encobrir uma indústria em declínio, uma economia cada vez mais consumista e pouco produtiva, dependência crescente de produtos importados da Ásia e Europa, decréscimo das exportações?
Para garantir um lugar no centro do palco internacional, a Casa Branca define uma solução mágica e simbólica: combater o “eixo do mal” que passa por paralelos muçulmanos do Oriente. Militarismo teatral, cinematográfico, antecipadamente vitorioso, ao redor do qual, no caso do Iraque, o petróleo poderia ser apenas um pretexto.
O canto do cisne, o último suspiro do império em decadência, ferido de morte.
Estas são as profecias de Emmanuel Todd, antropólogo francês e jornalista, que previu, em 1978, o esfacelamento da União Soviética.
Outros impérios se dissolveram quando se perderam os recursos ideológicos indispensáveis para sua sustentação. O insucesso de Atenas sobreveio ao restringir-se a cidadania a privilegiados étnicos, a cidadãos de pleno sangue heleno. O sucesso de Roma termina quando se adota como distintivo um único deus e uma só religião, sob Constantino. Quem administra o poder absoluto, César ou Pedro (Gibbon, Declínio e queda do império romano).
Os EEUU, durante sua época autenticamente imperial, eram curiosos e respeitosos do mundo externo. “A América enfraquecida e improdutiva da presente década tornou-se intolerante. Pretende encarnar um ideal humano exclusivo, possuir a chave de todo o sucesso econômico. Esta recente pretensão à hegemonia social e cultural, este processo de expansão narcisista é um sinal entre outros do dramático declínio da real potência econômica e militar. Incapaz de dominar o mundo, nega-lhe a existência autônoma e a diversidade de suas sociedades.”
Em conseqüência, a América do Norte, privada de uma percepção homogênea da humanidade e dos povos, não pode mais reinar sobre um mundo vasto e diversificado.
Uma parcela significativa do povo americano, injustamente odiada, com certeza se exclui dos exércitos imperiais comandados por Bush. A Europa catalizou as atenções dos povos que desejam a paz. O “eixo do bem” ficou sob suspeita.
Best seller na França e na Alemanha, neste verão, as profecias de Emmanuel Todd, contidas no DEPOIS DO IMPÉRIO, esperam por seu implacável cumprimento.
(Texto publicado em 2005)

Emmanuel Todd
DEPOIS DO IMPÉRIO
Tradução de Clóvis Marques
Record, 2003

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