terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MILIONÁRIOS

Uma revista de grande circulação informa que a supereconomia brasileira faz 164 milionários por dia. A notícia excitou-me. Pus-me logo a fazer contas para compreender a importância desse número e dessa gente endinheirada na, agora, sexta potência econômica mundial.
Minha imaginação, imediatamente, buscou localizá-los na porta de restaurantes finos, lojas de carros importados, agências de viagem. Estariam todos juntos, nesse dia, vestindo roupas da moda e sapatos de couro de jacaré? Qual seria a origem dessas sementes transgênicas lançadas na bolsa de valores, na compra e venda de ações ou carros de luxo? O real que chega ao milhão começou no centavo. Pensei na diarista, no gari, no sapateiro da esquina, no garçom do Líbanus, mas eles continuam sempre assim. Portanto, não são esses centavos que viram milhão de um dia para outro.
Meus cálculos dizem que, no ano, se fazem ao redor de 60 mil milionários. Não é, na verdade, um número expressivo se comparado aos 190 milhões de brasileiros, dos quais 55 milhões estão ainda no estágio dos centavos, agraciados pelo Bolsa Família, 15 milhões são analfabetos, e um número indefinido de milhões é miserável.
É, de fato, uma minoriazinha de milionários que a pujante economia capitalista do senhor Lula e do PMDB fabrica por ano. Nesse ritmo, a menos que esse pessoal gere milionários no ventre, a supereconomia brasileira levará 3.000 anos para elevar a população atual ao estágio de possuidores de um milhão de reais per capita.
Se é verdade que os impostos se elevam a 35% sobre a renda do cidadão, o fisco, com sua sagacidade e habilidade instaladas na Receita Federal, recolherá, neste ano, R$ 21 bilhões dos R$ 60 bilhões que os 60 mil milionários conseguiram de forma lícita e honesta. Nesse imposto recolhido está metade do que não se pode mais arrecadar com a CPMF, depois que a oposição resolveu dizer a que veio. A recomendação dos estrategistas de longo prazo é óbvia. Dobrar a produção de milionários por ano.
Mas, pelo menos, a ponta do iceberg se revela e permite compreender a afirmação peremptória das autoridades estatísticas de que houve um espetacular aumento da renda e um vibrante estímulo ao comércio. De fato, a renda transborda desses 60 mil milionários, favorecidos pela supereconomia brasileira, e irriga outros milhões de salários mínimos que adquirem geladeiras, celulares, máquinas de lavar, carros zero quilômetro, sustentados pela modalidade de dívidas bancárias esticadas em 70 prestações.


29.01.2008

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