MURUNDUS
Deambulando pelo Sítio das Neves, nas partes altas e
baixas, tenho notado grandes formações de murundus sobre o solo e casas de
cupins presos ao tronco de árvores ou em galhos mais altos. Os do chão servem
de mesa aos tatus e tamanduás. Os ninhos suspensos em árvores alimentam
caturritas e outros pássaros.
Uma de minhas contribuições ao processo de regeneração da
área degradada pelo fogo, pisoteio de bovinos, corte de árvores para
transformá-las em carvão, consistiu em construir pequenas barragens nas grotas
e canais de esgotamento que se formaram durante centenas de anos, para
contenção e detenção de águas da chuva.
Nas áreas mais altas, onde a disponibilidade de pedras era
quase nula, passei a usar, como os castores, madeira seca e folhas de catolé
como base da barragem e sobre ela uma camada de terra de cupim em blocos para
preservar a vida dos insetos. A intuição precedeu ao conhecimento que se
consolidou com a observação dos resultados. Sobre essas barragens e ao redor
delas cresceu a vegetação, graças à detenção das águas por mais tempo.
Os cupins se tornaram meus sócios, tanto na captação de
águas da chuva, quanto na regeneração vegetal. Não teriam os murundus outras
funções, especialmente os que povoam as cercanias das áreas em que brotam
nascentes de água perenes ou intermitentes? Depois de uma queimada, em ambos
lados da BR 060, aparecem inúmeros murundus expostos ao Sol cáustico de
setembro e outubro. Qual seria o segredo da sobrevivência dos cupins ao fogo?
Estariam eles protegidos pela espessa camada que reveste suas casas graças à
mistura da baba que produzem e a umidade que eles mantêm no interior? A
vegetação densa, os arbustos frutíferos como os mirtilos, cajuzinhos (Anocardium humile), marolo (Annona classiflora), mama-cadela,
árvores endêmicas do Cerrado e manacás floridos teriam a ver com a existência
de murundus nas cabeceiras dos mananciais?
Busquei a ajuda de biólogos para comprovar as funções dos
cupins relacionadas à água. Consultei pesquisas realizadas sobre o tema. Minha
intuição estava no caminho da ciência, da pesquisa e do conhecimento. Os
ambientes povoados por murundus “funcionam como grandes esponjas, retendo águas
da chuva, filtrando-a e liberando-a lentamente para abastecer os corpos d’água
na estação seca”, relata a bióloga Bruna Helena Campos, Universidade Estadual
de Campinas (Unicampo).
Devo agradecimentos aos cupins, meus sócios, que me
despertaram para a sabedoria embutida na silenciosa natureza, cujo princípio
básico não escrito, mas explícito, é unir todos os seres vivos para a
manutenção da vida no planeta Terra. Quanto agrotóxico foi despejado sobre os
murundus pelo homo erectus, faber e
sapiens. Ficamos sem água da fonte e com a água dos rios, o solo e o ar
contaminados.
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