FATALIDADE
Acordei,
como em milhares de manhãs, com a fatalidade irrecusável do nascer do Sol e
humildemente aceita. A fatalidade obedece ao cumprimento das leis físicas. Não
sou fatalista. Sou um usuário fiel da fatalidade. A maioria dos eventos
agradáveis ou desagradáveis que marcaram minha existência teve o toque da
fatalidade.
A
fatalidade começou no dia de meu nascimento, previsto para 29 de junho, festa
de São Pedro, mas antecipado para 28. O que seria Pedro Eugênio, foi registrado
Eugênio Pedro.
Depois de
uma longa viagem de trem, aos dez anos, atravessando sozinho dois Estados do
Sul do país, fui internado num educandário (?) religioso. Não imaginava o que a
fatalidade me reservava. Consciente e inconscientemente fui aderindo à
fatalidade. Num belo dia, aos 24 anos, um bispo de mitra e báculo me introduziu
na casta sacerdotal da Igreja católica.
Em 1967, a
fatalidade chegou pelo Consulado da França, do Rio de Janeiro. A diligente
funcionária, pede-me para preencher formulários que me dariam bolsa de estudos
na Universidade de Paris. Uma fatalidade!
Movido por
novas especulações filosóficas, renunciei aos dogmas católicos. A liberdade de
pensar me levou ao mundo anárquico da natureza auto-organizada, onde a
fatalidade é aceita e cumprida por todos os seres vivos, humanos e não humanos.
A
fatalidade, em pleno Movimento de Maio/1968, me levou a contatar uma jovem
jornalista finlandesa ─ Hilkka Mäki ─, na calçada oposta da Rue Vaugirard,
Paris, com quem compartilho os dias por 52 anos.
A
fatalidade me levou dos pampas ao cerrado, onde as leis da fatalidade me
induziram a ouvir o idioma terno das árvores e o chuá incessante das águas
cristalinas.
A última
fatalidade inescapável, sem hora para acontecer, me deixará rodando pelo espaço
azul recamado de estrelas, a 36 km por segundo, nas costas do planeta Terra.
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