CANÇÃO A MARIO
Mário,
Deitado
ao pé da mesa,
Espera,
dorme, ronca.
Chegou
ao Sítio das Neves, dado,
Gostou,
ficou.
Sem
documentos
Não
entrou no avião
Que
levou seus tutores
Para
o exterior.
Sem
data de nascimento.
Filho
de mãe solteira
Em
situação de rua.
Já
era maduro em 2013.
Cidadão
honorário,
De
raça indefinida.
Mário,
cabeleira preta,
Só
não fala,
Mas
distingue o idioma
Do
Lácio e de Suomi-Lapônia.
Baixa
a cabeça
Ao
severo não!
Sacode
o rabo e sorri
Ao
ver o prato da ração.
Escuta
atento, vê no escuro,
Ladra,
não tolera quatis
Que
chupam jacas
E
dormem nas jaqueiras.
Mário
é tetraplégico
Doença
incurável,
Mas
não mata.
Mário
tem duas casas
Come
nas duas
Se
arrasta de uma a outra.
Mário
é feliz
Não
recusa comida,
Cumpre
seu dever
Late
sem pedir identidade
Do
indivíduo estranho.
Se
errou pede desculpas,
Sacode
o rabo
E
cheira o pé do visitante.
Mário
é imortal
Da
Academia Canina Ladrante.
Enterrou
Betinho
Bem
mais novo
Que
morreu subitamente.
Tem
ciúme de Manteiga
Seu
companheiro de caserna.
Não
gerou filhos.
Ama
Lauro, um gato gay,
Que
o beija declaradamente.
Tolera
Jênifer, mãe de Lauro.
Lamenta,
cabeça baixa,
Sua
incontinência dupla.
Já
não levanta a perna
Para
marcar território
No
tronco da cajazeira.
Pede
desculpas
Com
olhar conformado
A
quem recolhe seus restos
E
seca o chão da varanda.
Mário,
um ser sociável,
Um
amigo imortal.
26.4.2022
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