IGNORÂNCIA
Amigos,
A pandemia revelou
minha generalizada ignorância sobre os mais variados temas. É verdade que, em
matéria de coronavírus, literalmente todos: médicos, políticos, filósofos,
teólogos ignoravam o bichinho da gripezinha. Ninguém sabia o que era, de onde
veio, se do morcego, da girafa ou do pandolino (tatu) e aonde ia. Mortes, covas
em série, enterros apressados, choros à distância foram realidades tão
incômodas que os do andar de cima preferiram ignorá-las e negá-las.
A novíssima linguagem
dos aplicativos digitais é a mais moderna tortura mental. Internará a espécie humana no manicômio planetário. Levei
três dias de pesadelo para achar os números necessários, nos sites do Ibraim e
do Ibama, para validação de informações que ofereci à Receita Federal referentes
ao pagamento de dez reais do Imposto Territorial Rural anual.
Confesso envergonhado
que não sabia que o planeta Terra é plano. Mesmo com a autoridade científica
dos planistas, mantenho minha tênue e já ultrapassada convicção de um planeta redondo
ou quase.
Vivo num país que
abriga as mais variadas nuances religiosas, de extração cristã, anunciando
milagres pelas TV’s e rádios. Confesso que ignoro a existência de adeptos da Cristofobia, religião denunciada pelo Presidente
da República do Brasil, na 75a Assembleia da ONU, 2020. Quantos
cristófobos existem neste país demonofóbico?
Inesperadamente, recebi
uma ligação intersideral de Millôr Fernandes que habita, há alguns anos, uma
avenida virtual na belíssima e fosfina Vênus. Seguindo as indicações do filósofo
humorista, fui à estante de meus livros. Ler é indicado aos ignorantes. Em
geral, os sábios chegam a tal estágio por aceitarem humildemente sua
ignorância. Todo livro é a confissão humilde do escritor ao relatar a
experiência de sua trágica ignorância.
Foi essa lucidez que
inspirou Millôr a me revelar suas descobertas metafísicas no livro Lições de um ignorante (Ed. Paz e Terra,
1977). São apenas 43 lições. Fáceis de assimilar. Uma por dia. Ao final de gostosas
gargalhadas, já me sentia um erudito, quase sábio.
Posso, agora,
compreender a linguagem cifrada da alta cúpula do governo, dos presidentes da Câmara
dos Deputados e do Senado e, especialmente, a dos ministros do STF. Num país
cronicamente ameaçado pelo comunismo, “os homens públicos falam sem nenhuma
propriedade”, disse-me o mestre. Percebo também com mais clareza a acusação de
pedófilo feita ao lobo-mau que devorou Chapeuzinho Vermelho. Meninas não devem
andar sozinhas pelas florestas urbanas.
Indico algumas das Lições de um ignorante que me ajudaram a
compreender o novo Brasil, Pátria Amada.
- Num acesso de
ignorância eu acreditava “nas crônicas
oficiais que mostram um país com uma sociedade absolutamente sem classe”. (Brasil,
Pais Comunista)
-
Colecionei algumas frases ditas pelo presidente da república: E daí? Quem manda
é a caneta Bic... É uma gripezinha... Não sou coveiro. Ficar em casa é para
fracos. Brasil é um exemplo de cuidados ambientais. Estamos vencendo a
pandemia. (Frases que ficam e que vão)
-
Aprendi que a regra do indiciado é negar os fatos até a última instância do trânsito
em julgado. (A máquina da justiça e suas
peças principais)
-“O
Brasil é maior do que os menores e menor do que os maiores. É o País do Futuro.(O
Brasil)
- Na última lição (Resumo – 1963), olhando as árvores pela
janela de minha prisão, no silêncio
metafísico de meu isolamento, cumprindo a sentença do juiz invisível, li o derradeiro
conselho sábio de Millôr Fernandes aos ignorantes:
“Estejam certos porém de que a Justiça será igual para todos”.
21.9.2020
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