domingo, 27 de setembro de 2020

Cartas da prisão - PUDIM

 

 PUDIM

Amigos,

Chateado de andar com mascara até para levar o lixo no contêiner, tive um desejo infantil: comer pudim  Lembrei-me do pudim de dona Inez, minha mãe. De avental branco, cestinho na mão, ia ao galinheiro buscar ovos frescos. Abria o armário para pegar o leite condensado. O leite fervido da Estrela estava na leiteira. Batia tudo numa tigelona de vidro. Fechava a porta do forno do fogão a lenha e dizia: “pronto! Agora, é só esperar!” O pudim de dona Inez era famoso em toda a redondeza.

Nossa diarista Val, depois de meses, retornou ao trabalho semanal em nosso apartamento. Dei-lhe bom-dia, ao abrir a porta, e lhe disse: antes de ligar o aspirador, vou querer que a senhora faça um pudim. Nem terminei o pedido e Val, com tremenda autoestima, fez sua autopromoção. “Também na casa de Ligia Moreno (famosa pianista brasiliense, nascida na Ceilândia),  só comem do meu pudim”. A cozinha, em poucos minutos, cheirava a pudim, com aroma de baunilha. O pudim da Val é muito bom! Por que não pedi dois?

O terceiro pudimeiro de minhas lembranças, quem diria, é um arquiteto cearense, Fred Holanda, com receita não revelada. Segundo me informei com o sempre presente Coutinho, também arquiteto, o período de gestação desse incomparável pudim é de oito dias. Durante a maturação do excepcional pudim, o pudimeiro cearense executa ao piano peças de Villa-Lobos. É um pudim de alta musicalidade e, principalmente, super-super suculento.

Pudim, um presente da pandemia!

 

27.9.2020

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