(Fotos: 1) Ritual de sepultamento neandertal. 2) minha mão impressa na parede de pedra de Atapuerca,
JAZIDA
ANTROPOLÓGICA DE ATAPUERCA
Em 2013, tomei conhecimento do livro EL SELLO
INDELEBLE de Juan Luis Arsuega e do psicólogo e neurocientista Martín-Loeches. Obtive,
nessa obra, informações sobre a jazida antropológica de Atapuerca marcada pela
presença de Neandertais e pelo provável convívio com o homo sapiens. Fascinou-me, durante a leitura, a possibilidade de
conhecer a jazida e conhecer as aventuras existenciais dos neandertais.
Seis anos depois, a oportunidade se apresentou com a
preciosa ajuda de um amigo colombiano, Pedro Eugenio Lopes Salasar, professor
de economia da Universidade de Extremadura, Badajoz, no sul da Espanha.
No dia dois de agosto de 2019, cheguei a Badajoz, via
Lisboa. Nosso destino seria a cidade de Burgos, a 630 km ao norte da Espanha. A
jazida paleontológica de Atapuerca dista 15 quilômetros desse centro
urbano de 170.000 habitantes.
Atapuerca é nome formado por duas palavras: Ata, em
basco significa PORTA, Puerca também significa PORTA = PORTA A PORTA, isto é,
podia-se entrar e sair por ambos lados.
Atapuerca é a maior jazida de restos e vestígios
paleontológicos do planeta por sua extensão geográfica e pelo número de objetos
que contam a história pregressa de 190.000 anos. Parece ter sido, por condições
geográficas, um ponto de chegada da mobilidade migratória.
A jazida de Atapuerca foi descoberta em 1974, num
corte de montanha feito por uma mineradora inglesa que interrompeu seu trabalho
por questões políticas entre Espanha e Inglaterra. As escavações revelaram restos
e vestígios culturais de uma civilização que viveu ali há 190.000 anos.
O Homo sapiens,
vindo de algum lugar do planeta, surpreendeu, nessa área, um grupo organizado de
neandertais. Esses hominídeos já haviam descoberto técnicas para produzir faíscas
e fogo. Fabricavam objetos e instrumentos de pedra lascada para uso doméstico e
flechas para caça e defesa. Extraiam tintas derivadas da raspagem de pedras
coloridas para tatuagens, e compunham colares de búzios para ornamentar-se em suas
celebrações e rituais de sepultamento.
O fogo lhes
permitiu derreter metais, além de aquecer-se e cozinhar alimentos. A
alimentação básica dos neandertais era o peixe abundante do rio Alarzón que
ficava a 800 metros de seu abrigo.
A jazida de Atapuerca é formada de três covas, numa
extensão de aproximadamente 1.000 metros e cinquenta de profundidade. Nessas
covas também escondiam-se animais. A presença de Neandertais obrigou os bichos
a procurarem outros abrigos. Com a desocupação das covas, centenas de anos
depois, esses espaços voltaram a ser ocupados por morcegos, ursos, bisões e
outros animais.
A idade geológica da jazida, formada de camadas
superpostas pelo movimento das ondas e retirada do mar, está calculada em
1.300.000 anos. A ocupação dessa área data de apenas 190.000 anos.
O deslocamento desses grupos de neandertais, de 20 ou
30 membros, incluindo a prole, baseava-se em três condições essenciais: a) abrigo
para defender-se de animais famintos, refugiar-se da chuva, dos raios e das
mutações do clima; b) abundante comida; c) água.
Nessas planícies cercadas de montanhas, os neandertais
encontraram os três elementos básicos mencionados. Caça e pesca eram as duas
condições de subsistência e reprodução.
A 800 metros das grutas passava o rio Alarzón que
lhes dava peixes em abundância e água. Passados 190.000 anos, o rio foi secando
e se afastando do local. Hoje está a 8 km da jazida de Atapuerca.
A desidratação do planeta é lenta, mas constante. Há apenas
60 anos, a área, onde está o Distrito Federal, oferecia milhares de nascentes e
centenas de córregos dos quais aparece uma vaga linha de vegetação e um leito
seco. O superpovoamento de uma área é o princípio da desertificação provocada
pela necessária produção de alimentos e pela crescente urbanização.
ETAPAS DA VISITAÇÃO AO COMPLEXO ANTROPOLÓGICO E
PALEONTOLÓGICO DE ATAPUERCA.
- Primeira etapa: Centro Arqueológico Experimental de ATAPUERCA
Há poucos quilômetros das covas, no Centro
Arqueológico se reproduzem, com demonstração feita por antropólogos, fatos culturais,
como a preparação de instrumentos de pedra sílex. São apresentados arcos e
flechas, tendas habitacionais de peles, sinais rupestres, figuras de animais da
região pintadas nas paredes das grutas, sombras de mãos gravadas com jatos de
tinta (expray por sopro de tinta sobre a mão).
Mostram-se formas de sepultamento, objetos de decoração pessoal como
colares de sementes, de búzios ou dentes de animais, técnicas de produzir
faíscas e fogo, casas primitivas de pedra ou madeira com telhado de ramos de arbustos.
- Segunda etapa,
jazida formada por três covas.
Nessas covas se encontraram restos e vestígios,
ossadas de animais, de neandertais e Homo
sapiens, volumosas deposições de morcegos que habitaram as covas durante
mais de 30 anos.
Há informações sobre o acasalamento compatível do Homo sapiens
e neandertais, fato que indica o compartilhamento persistente do DNA entre os
diferentes grupos de hominídeos.
- Terceira etapa,
Museu Antropológico e Paleontológico, na cidade de Burgos.
O Museu apresenta uma réplica impressionante e
comovedora das covas em que se recolheram os objetos com a reconstrução de
figuras hominídeas e seus objetos de uso.
Livraria especializada oferece documentos e livros,
além de lembranças próprias dos achados antropológicos e paleontológicos.
CADEIA EVOLUTIVA
Quatro grupos contribuíram para completar a evolução
hominídea consubstanciada no homo sapiens.
Os Predecessores
(antropopítecos - primatas), os Heidelbergensis
(500.000 anos - Alemanha), os Neandertais
(190.000 anos) e, finalmente, Homo Sapiens.
Extintos os três primeiros grupos, culminou-se a
evolução hominídea com a exclusiva sobrevivência do Homo sapiens há aproximadamente 40 ou 50 mil anos.
O desaparecimento dos neandertais pode ter sido
causado pela supremacia do Homo sapiens
que trazia novas armas, germes, bactérias transmissíveis e aço para fabricação
de ferramentas mais eficazes.
As atividades de caça e pesca continuaram como
garantia da sobrevivência e reprodução, porém, de maneira mais ordenada e
cooperativa. A abundância de comida e água provocou um aumento gradativo da
população. Novas áreas e novos espaços foram sendo ocupados, inclusive com a
travessia de rios e braços de mar para alcançar ilhas e marcar territórios.
As florestas ofereceram madeira para a construção de
abrigos mais sólidos e permanentes, em substituição às cavernas e moradias de
pedra. A domesticação de animais, fruteiras e cereais data de aproximadamente
15 mil anos o que permitiu a formação de assentamentos e a redução do nomadismo.
O sedentarismo estimulou a agricultura e a expansão de
vilarejos com número progressivo de famílias, embrião da organização social. Normas
de convivência se estabeleceram. As estações do ano suscitaram celebrações. A
explosão da primavera, as colheitas abundantes eram motivos de alegria e festa.
O medo e o respeito ao desconhecido culminaram na crença supersticiosa em seres
poderosos e invisíveis, com poder de punir ou premiar.
As cerimônias de sepultamento de membros do grupo eram
praticadas por neandertais. Mais tarde, a memória dos antepassados foi
esculpida em pedra ou pintada em murais.
Saliente-se que
a espécie humana – Homo sapiens –
tornou-se o único ser vivo a usar o fogo, fabricar armas, servir-se da roda, escrever
livros, voar pelo espaço. É o único e exclusivo ser vivo a tomar decisões sobre
as condições de vida no planeta. É o risco de ser o ditador absoluto com
presença em todas as regiões da Terra. O Homo
sapiens não encontra ou enfrenta oposição externa a ele, além das leis
físicas. A disputa é interna e se orienta pela força, pela energia, pela
capacidade de disputar o poder e assenhorear-se dos meios que utiliza para seus
fins compartilhando invenções com diferentes grupos humanos ao redor do planeta.
A sobrevivência ou a extinção do Homo sapiens dependem de sua prudência e racionalidade na tomada de
decisões frente às leis físicas e aos bens essenciais oferecidos pelo planeta
para alimentação, suprimento de água e conforto.
OBSERVAÇOES:
· O canibalismo pode ter sido uma prática de defesa
entre grupos para proteger-se contra novos ocupantes que vinham em busca de
comida.
· O sangue de animais e as gorduras eram utilizados na
pintura rupestre ou tatuagens.
· Pelos e cabelos de animais transformavam-se em pincéis
e as peles os vestiam no inverno.
· De ossos de tíbia ou fêmur derivavam ferramentas
pequenas Carnes eram comidas cruas antes da descoberta da faísca.
· As carnes eram cortadas com facas de pedra sílex em
forma de triângulo.
· Um sistema de comunicação entre grupos vizinhos era
usado rodando-se com rapidez uma vara que trazia um objeto plano preso à corda.
O deslocamento do ar produz um som audível a três quilômetros. Gera, ao mesmo
tempo, um som musical com várias graduações.
· A extinção dos neandertais é nebulosa. A chegada do Homo sapiens trouxe novas armas de
ataque e defesa, germes e doenças desconhecidas e ferramentas obtidas da fusão
de metais, como ferro e cobre, com uso de carvão mineral. (Jared Diamond, Armas, germes e aço)
· Os dinossauros viveram há 60 milhões de anos antes do Homo sapiens.
· Os primatas, que nos deram origem, viveram durante
mais de 65 milhões de anos em florestas. As árvores garantiram sua
sobrevivência.
PÓS-HISTÓRIA HUMANA
Transcrevo mensagem que os arqueólogos e paleontólogos
homo sapiens deixaram aos visitantes de
Atapuerca.
Pode ser útil aos que pretendem marcar sua passagem
pelo planeta Terra.
El Yacimiento
del Yacimiento del Centro Arqueológico Experimental de ATAPUERCA
En
el año 22.019, cuando usted ya sea
yacimiento y un equipo de alienígenas explore la Tierra, en esse verano
constante que evaporará los océanos, y descubra un fragmento de su cráneo y
reconstruya un clon como usted, incluso, con la misma consciência que tiene
hoy, y usted sea el único exemplo vivo de homo
sapiens en el universo ?cómo usted explicará entonces a esos seres
casi transparentes, cual es el legado más importante de la civilización humana?
Eugênio
Giovenardi
Badajoz
– España
Atapuerca
3.8.2019
Um comentário:
Sensacional o relato! Uma reflexão profunda sobre o poder de auto-destruição e egoísmo do ser humano! Parabéns pela eecolha do assunto e o paralelismo com a existência do Sítio das Neves e a recuperação da água que parece fadada a desaparecer ou se afastar da destruição causada pelo homem!! Grande abraço!
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