quarta-feira, 14 de agosto de 2019

JAZIDA ANTROPOLÓGICA DE ATAPUERCA



(Fotos: 1) Ritual de sepultamento neandertal. 2) minha mão impressa na parede de pedra de Atapuerca,

JAZIDA ANTROPOLÓGICA DE ATAPUERCA


Em 2013, tomei conhecimento do livro EL SELLO INDELEBLE de Juan Luis Arsuega e do psicólogo e neurocientista Martín-Loeches. Obtive, nessa obra, informações sobre a jazida antropológica de Atapuerca marcada pela presença de Neandertais e pelo provável convívio com o homo sapiens. Fascinou-me, durante a leitura, a possibilidade de conhecer a jazida e conhecer as aventuras existenciais dos neandertais.
Seis anos depois, a oportunidade se apresentou com a preciosa ajuda de um amigo colombiano, Pedro Eugenio Lopes Salasar, professor de economia da Universidade de Extremadura, Badajoz, no sul da Espanha.
No dia dois de agosto de 2019, cheguei a Badajoz, via Lisboa. Nosso destino seria a cidade de Burgos, a 630 km ao norte da Espanha. A jazida paleontológica de Atapuerca dista 15 quilômetros desse centro urbano  de 170.000 habitantes.
Atapuerca é nome formado por duas palavras: Ata, em basco significa PORTA, Puerca também significa PORTA = PORTA A PORTA, isto é, podia-se entrar e sair por ambos lados.
Atapuerca é a maior jazida de restos e vestígios paleontológicos do planeta por sua extensão geográfica e pelo número de objetos que contam a história pregressa de 190.000 anos. Parece ter sido, por condições geográficas, um ponto de chegada da mobilidade migratória.
A jazida de Atapuerca foi descoberta em 1974, num corte de montanha feito por uma mineradora inglesa que interrompeu seu trabalho por questões políticas entre Espanha e Inglaterra. As escavações revelaram restos e vestígios culturais de uma civilização que viveu ali há 190.000 anos.
O Homo sapiens, vindo de algum lugar do planeta, surpreendeu, nessa área, um grupo organizado de neandertais. Esses hominídeos já haviam descoberto técnicas para produzir faíscas e fogo. Fabricavam objetos e instrumentos de pedra lascada para uso doméstico e flechas para caça e defesa. Extraiam tintas derivadas da raspagem de pedras coloridas para tatuagens, e compunham colares de búzios para ornamentar-se em suas celebrações e rituais de sepultamento.
 O fogo lhes permitiu derreter metais, além de aquecer-se e cozinhar alimentos. A alimentação básica dos neandertais era o peixe abundante do rio Alarzón que ficava a 800 metros de seu abrigo.
A jazida de Atapuerca é formada de três covas, numa extensão de aproximadamente 1.000 metros e cinquenta de profundidade. Nessas covas também escondiam-se animais. A presença de Neandertais obrigou os bichos a procurarem outros abrigos. Com a desocupação das covas, centenas de anos depois, esses espaços voltaram a ser ocupados por morcegos, ursos, bisões e outros animais.
A idade geológica da jazida, formada de camadas superpostas pelo movimento das ondas e retirada do mar, está calculada em 1.300.000 anos. A ocupação dessa área data de apenas 190.000 anos.
O deslocamento desses grupos de neandertais, de 20 ou 30 membros, incluindo a prole, baseava-se em três condições essenciais: a) abrigo para defender-se de animais famintos, refugiar-se da chuva, dos raios e das mutações do clima; b) abundante comida; c) água.
Nessas planícies cercadas de montanhas, os neandertais encontraram os três elementos básicos mencionados. Caça e pesca eram as duas condições de subsistência e reprodução.
A 800 metros das grutas passava o rio Alarzón que lhes dava peixes em abundância e água. Passados 190.000 anos, o rio foi secando e se afastando do local. Hoje está a 8 km da jazida de Atapuerca.
A desidratação do planeta é lenta, mas constante. Há apenas 60 anos, a área, onde está o Distrito Federal, oferecia milhares de nascentes e centenas de córregos dos quais aparece uma vaga linha de vegetação e um leito seco. O superpovoamento de uma área é o princípio da desertificação provocada pela necessária produção de alimentos e pela crescente urbanização.

ETAPAS DA VISITAÇÃO AO COMPLEXO ANTROPOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO DE ATAPUERCA.

-        Primeira etapa: Centro Arqueológico Experimental de ATAPUERCA

Há poucos quilômetros das covas, no Centro Arqueológico se reproduzem, com demonstração feita por antropólogos, fatos culturais, como a preparação de instrumentos de pedra sílex. São apresentados arcos e flechas, tendas habitacionais de peles, sinais rupestres, figuras de animais da região pintadas nas paredes das grutas, sombras de mãos gravadas com jatos de tinta (expray por sopro de tinta sobre a mão).  Mostram-se formas de sepultamento, objetos de decoração pessoal como colares de sementes, de búzios ou dentes de animais, técnicas de produzir faíscas e fogo, casas primitivas de pedra ou madeira com telhado de ramos de arbustos.

- Segunda etapa, jazida formada por três covas.

Nessas covas se encontraram restos e vestígios, ossadas de animais, de neandertais e Homo sapiens, volumosas deposições de morcegos que habitaram as covas durante mais de 30 anos.
Há informações sobre o acasalamento compatível do Homo sapiens e neandertais, fato que indica o compartilhamento persistente do DNA entre os diferentes grupos de hominídeos.

- Terceira etapa, Museu Antropológico e Paleontológico, na cidade de Burgos.

O Museu apresenta uma réplica impressionante e comovedora das covas em que se recolheram os objetos com a reconstrução de figuras hominídeas e seus objetos de uso.
Livraria especializada oferece documentos e livros, além de lembranças próprias dos achados antropológicos e paleontológicos.


CADEIA EVOLUTIVA

Quatro grupos contribuíram para completar a evolução hominídea consubstanciada no homo sapiens.
Os Predecessores (antropopítecos - primatas), os Heidelbergensis (500.000 anos - Alemanha), os Neandertais (190.000 anos) e, finalmente, Homo Sapiens.
Extintos os três primeiros grupos, culminou-se a evolução hominídea com a exclusiva sobrevivência do Homo sapiens há aproximadamente 40 ou 50 mil anos.
O desaparecimento dos neandertais pode ter sido causado pela supremacia do Homo sapiens que trazia novas armas, germes, bactérias transmissíveis e aço para fabricação de ferramentas mais eficazes.
As atividades de caça e pesca continuaram como garantia da sobrevivência e reprodução, porém, de maneira mais ordenada e cooperativa. A abundância de comida e água provocou um aumento gradativo da população. Novas áreas e novos espaços foram sendo ocupados, inclusive com a travessia de rios e braços de mar para alcançar ilhas e marcar territórios.
As florestas ofereceram madeira para a construção de abrigos mais sólidos e permanentes, em substituição às cavernas e moradias de pedra. A domesticação de animais, fruteiras e cereais data de aproximadamente 15 mil anos o que permitiu a formação de assentamentos e a redução do nomadismo.
O sedentarismo estimulou a agricultura e a expansão de vilarejos com número progressivo de famílias, embrião da organização social. Normas de convivência se estabeleceram. As estações do ano suscitaram celebrações. A explosão da primavera, as colheitas abundantes eram motivos de alegria e festa. O medo e o respeito ao desconhecido culminaram na crença supersticiosa em seres poderosos e invisíveis, com poder de punir ou premiar.
As cerimônias de sepultamento de membros do grupo eram praticadas por neandertais. Mais tarde, a memória dos antepassados foi esculpida em pedra ou pintada em murais.
 Saliente-se que a espécie humana – Homo sapiens – tornou-se o único ser vivo a usar o fogo, fabricar armas, servir-se da roda, escrever livros, voar pelo espaço. É o único e exclusivo ser vivo a tomar decisões sobre as condições de vida no planeta. É o risco de ser o ditador absoluto com presença em todas as regiões da Terra. O Homo sapiens não encontra ou enfrenta oposição externa a ele, além das leis físicas. A disputa é interna e se orienta pela força, pela energia, pela capacidade de disputar o poder e assenhorear-se dos meios que utiliza para seus fins compartilhando invenções com diferentes grupos humanos ao redor do planeta.
A sobrevivência ou a extinção do Homo sapiens dependem de sua prudência e racionalidade na tomada de decisões frente às leis físicas e aos bens essenciais oferecidos pelo planeta para alimentação, suprimento de água e conforto.


OBSERVAÇOES:

·       O canibalismo pode ter sido uma prática de defesa entre grupos para proteger-se contra novos ocupantes que vinham em busca de comida.
·       O sangue de animais e as gorduras eram utilizados na pintura rupestre ou tatuagens.
·       Pelos e cabelos de animais transformavam-se em pincéis e as peles os vestiam no inverno.
·       De ossos de tíbia ou fêmur derivavam ferramentas pequenas Carnes eram comidas cruas antes da descoberta da faísca.
·       As carnes eram cortadas com facas de pedra sílex em forma de triângulo.
·       Um sistema de comunicação entre grupos vizinhos era usado rodando-se com rapidez uma vara que trazia um objeto plano preso à corda. O deslocamento do ar produz um som audível a três quilômetros. Gera, ao mesmo tempo, um som musical com várias graduações.
·       A extinção dos neandertais é nebulosa. A chegada do Homo sapiens trouxe novas armas de ataque e defesa, germes e doenças desconhecidas e ferramentas obtidas da fusão de metais, como ferro e cobre, com uso de carvão mineral. (Jared Diamond, Armas, germes e aço)
·       Os dinossauros viveram há 60 milhões de anos antes do Homo sapiens.
·       Os primatas, que nos deram origem, viveram durante mais de 65 milhões de anos em florestas. As árvores garantiram sua sobrevivência.



PÓS-HISTÓRIA HUMANA

Transcrevo mensagem que os arqueólogos e paleontólogos homo sapiens deixaram aos visitantes de Atapuerca.
Pode ser útil aos que pretendem marcar sua passagem pelo planeta Terra.


El Yacimiento del Yacimiento del Centro Arqueológico Experimental de ATAPUERCA

En el año 22.019, cuando usted ya sea yacimiento y un equipo de alienígenas explore la Tierra, en esse verano constante que evaporará los océanos, y descubra un fragmento de su cráneo y reconstruya un clon como usted, incluso, con la misma consciência que tiene hoy, y usted sea el único exemplo vivo de homo sapiens en el universo  ?cómo usted explicará entonces a esos seres casi transparentes, cual es el legado más importante de la civilización humana?


Eugênio Giovenardi
Badajoz – España
Atapuerca
3.8.2019


Um comentário:

Luiz Mourão disse...

Sensacional o relato! Uma reflexão profunda sobre o poder de auto-destruição e egoísmo do ser humano! Parabéns pela eecolha do assunto e o paralelismo com a existência do Sítio das Neves e a recuperação da água que parece fadada a desaparecer ou se afastar da destruição causada pelo homem!! Grande abraço!